sábado, 24 de julho de 2010

Nota

A gente vive perdendo coisas pelo caminho. Pode ser as chaves de casa, uma caneta emprestada, um papel anotado, a idéia genial ou a única chance. Tem gente que vive perdendo coisas miúdas por aí. Eu sempre perco os lapis da minha caixa de cor e, pra ser sincera, desde que me entendo por gente compro caixas seguidamente na promessa de que, não, dessa vez eu não vou perder nenhum. Mas a gente sempre perde, por mais que lute contra, alguma coisa pelo caminho.
Se pararmos pra pensar bem a vida é uma grande perda, desde os minutos engolidos pelo relógio no início do dia até o avião que acaba de decolar, e você não viu, levando alguém que você nem sabe quando vai ver de novo. E acho que não há perda mais enjoada e indigesta do que essa de perder coisas vivas. Perder pessoas é um tipo de perda que você não se habitua. Pode-se até aceitar mais facilmente... mas nunca se acostuma, assim como quem se conforma em nunca achar o vermelho da caixa de lapis.
Quando você perde uma pessoa, não são só os espaços físicos que ficam em branco. Você sente o peso do nada, o que é engraçado. É meio triste quando você perde a unica pessoa que ri daquilo que ninguém mais acha engraçado; que te cutuca muito discretamente e você entende o que ela quer dizer sem que um conjunto de dez palavras precise ser pronunciada; quando você perde alguém que é um pedaço intriseco do seu dia, todos os dias; quando tudo o que existe ao seu redor, começando pelo seu reflexo no espelho para terminar naquilo que você está pensando e que, sem querer, é o seu ultimo pensamento do dia; quando você começa a imaginar, meio desesperado, como faz pra começar uma vida nova; quando você tem tanta coisa pra dizer, pra mostrar, pra entender, e a única coisa que consegue dizer é tchau.
É triste, mas é a vida.
Dura, seca, feiosa e sem jeito... Como esse texto.

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