quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Espirais

“Depois do céu tem outro céu
Ou nem o céu existe mais?
Será que o sol é de papel?
Será que as nuvens são de gás?
Se o mar começa noutro mar
Quem é que tira o sal do sal?
Antes do dia começar
A noite é quase imortal

Se nada tem um fim
Quem é que fez o não
Se a nossa vida quer assim

Eu viajei no tempo só por você
E me perdi no final quando encontrei seu olhar
Nossos destinos desenhando espirais
Eu entendi o sinal pelo seu jeito de rir pra mim

Se existe outra dimensão
Em que você não é você
Quem é que sabe a direção
Pra encontrar quem não se vê?
Se o tempo sempre tem razão
E tudo sempre vai mudar
Pra que manter os pés no chão
Se todo mundo quer voar?...”

.


Pusilanimidade

Pusilanimidade. É isso. Muita. Estou tremendo na base do meu órgão torácico. Eu fiz a merda, e não satisfeita pisei nela e saí pisoteando todos os cantos da casa. Meu mau comportamento está me corroendo. Como você mesmo disse rindo pra mim ao telefone, eu fui “malcriada”, “levada” e “braba”. Tudo bem. Desde pequena eu sempre tive essas “qualidades” mesmo. Mas com você eu não poderia. Eu não devia. Está errado, e eu estou ciente disso.

Só não me recordo de na minha infância achar tudo isso errado. E desde então sigo achando certo. Mas claro com as pessoas e ocasiões corretas. Dessa vez eu me perdi, e perdi a linha também. Ela não entrou na agulha de jeito nenhum. Saí fazendo o que não devia e quem pagou não foi só a minha consciência.

Mas... Você? Você não está ligando pra nada disso. E não é possível! Como um homem não vai ligar para tudo isso? Não pode! Isso também está errado. É “muita coisa” pra que você ligue pra “nada”. Me entende? Você continua me tratando otimamente bem, me sentido, me gostando a cada dia mais. Eu não compreendo. E enquanto eu não compreender eu não vou sossegar. Mas se você não me explicar, meu analista vai sofrer essa semana. Porque alguém vai ter de entender essa história e me contar. Porque mesmo eu tendo roubado a cena legal; mesmo eu sendo a atriz principal eu não sei como cheguei nesse capítulo. E quero explicações.

Pra você parece que nada aconteceu. Que tudo aquilo foi normal, e isso me assusta demais. Me assusta muito! E aí eu não sei, se eu esqueço tudo, começo do zero e aceito tudo de bom que você está me dando. Ou se levo a sério a questão de que devo me assustar e tomar cuidado com você, porque você não é normal, tem algum defeito brusco aí por trás e devo correr o quanto antes. Eu ainda não me decidi.

E você não perde tempo. Quer me ganhar a todo custo, a qualquer hora do dia, qualquer momento. Em plena segunda-feira me quer. Em plena terça também. E liga na quarta. Tenta na quinta. Mas sabe que a partir da sexta eu não consigo resistir. É uma coisa louca, você não é nada daquilo que pensei, imaginei, planejei, sonhei. Nada mesmo. O plano físico... Ta. OK. Era sim tudo que eu buscava na noite. Procurava nas ruas. Era o que me chamava atenção nas boates. Mas quando eu ia dormir não era o que eu sonhava ter para mim.

E mesmo assim você me encanta. Com essa sua voz rouca e pesada, parece que vive bêbado. Com esse charme. Você sabe se arrumar. Oh céus! Isso acaba comigo sempre. Quantos me encantaram e não sabiam se arrumar, daí eu desencantava. Então é isso, estou chocada com você.

Você é carinhoso quando não deveria ser, porque eu não mereço. Mas agora deu pra querer se intitular de “chato”. Vê se pode? Para de me torturar! Chato foram aqueles que me trouxeram felicidade e foram embora carregando tudo, me deixando no tédio. Eles sim, chatíssimos! Você? Você é a coisa mais gostosa que eu poderia ter agora. Eu não sei se haverá mais alguém nessa vida que posso me dar essa proeza de me sentir assim, diferentemente tranqüila. Dizem que sensações são diversas nessa vida. Posso sentir de novo como também posso nunca mais sentir igual. Então devo aproveitar?

Hoje em dia muitos, mas muitos mesmo prometem coisas que nem sabem se vão conseguir cumprir. E sinceramente? Quando eles falam eu começo a rir. É gozado demais, pra quê essa cena toda? Chega, e faz o que você achar melhor. Chega e faz! Fazendo não tem como negar de que você tentou e aproveitou. Agora, abrir a boca pra falar? Que desperdício! Tem horas que o que a boca menos precisa é falar. E sim... beijar. Beijar muito. Mostrar serviço e á que veio. E ele fez tudo isso. As palavras afetuosas vieram depois.

Olha, pode ser que esse seja o mais novo modelo de cafajeste que também tem por aí. Mas esse tipo de cafajeste eu recomendo. Nada me foi prometido. E o prazer e satisfação está sendo de ambos. É. Muito bom trabalho!

...Mas mesmo assim....Você ainda é um mistério pra mim.

Não quero ir embora!

Nunca que me veio na cabeça que eu pudesse largar algo que eu gostasse, assim. Do jeito que ta sendo agora. Na verdade não sei se irei largar, vou me esquivar, vou me posicionar. Coisa que não fiz nos últimos dias. Coisa que deixei de canto porque precisava extravasar; contar alegrias de bolso. Sair por aí. Me distanciar um pouco do meu costume de me acostumar.

Acho que estou indo embora, queria muito ficar aqui, contigo. Curtir tudo isso, sei que é tudo para mim. Sei que eu mereço, preciso, e gosto. Mas como tudo isso junto, e eu me sinto no dever de fugir? Sumir! Será mesmo que nasci pra ser de passagem? Se for, não entendo. Porque não escolhi isso. Nem quero isso. Pelo contrário. Mas parece que na hora H, tudo muda. Algo faz mudar por mim; pensar por mim. E faz com que eu vá pro lado oposto. Enxergue coisas que talvez pudessem ser ocultadas. Nada com relação a ciúmes...

É uma coisa interior mesmo. Que consegue me contagiar de cabo a rabo. Mas eu não quero. Deus á quem devo pedir que não me deixe ir embora? Me fala, e eu peço, de joelhos se preciso for. Que força é essa que tá querendo me levar? Será certa ela? E errada eu? Ou vice e versa? Não estou confusa, tenho a certeza das minhas vontades. Sei do que gosto, e estou querendo nesse momento. Não quero ter que abandonar mais uma coisa sem definição, mas que cresceu e é inevitável negar.

Eu vivo fazendo isso, se eu não faço, fazem por mim. Não agüento mais ir, eu quero ficar. E sem essas inquietações que me abatem. Eu sei que pisei na bola, talvez eu tenha estragado sem querer toda essa coisa sem definição. Mas foi com a melhor das intenções que eu fiquei, e quis ficar, e entreguei minhas alegrias de bolso pra ele. Ele não tem culpa. Eu tenho! A pior das sensações é quando nós mesmos estragamos a nossa própria felicidade. É uma rasteira brutal que na hora você não sabe de onde vem. E depois de muito pensar, cai em si. Foi você. O culpado é quem sente. E quem sente agora é você. E dói demais.

Não sei o que vou fazer a partir de agora. Vou pensar mais um pouco. Vou ligar o telefone pra vê se a solução disso tudo me liga. Ou manda uma mensagem. Me desarma, me alegra, me mantém, me sacode, me acorda, me define, me decide, me defende de mim.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Minissérie

E tudo anda perfeitamente bem. Ele estava pra chegar, naquele mesmo lugar, onde na semana passada se conheceram, e ficaram e se “apaixonaram” de antemão. Uma química na qual ela não sentia fazia tempos. Não parecia amor, e nem cilada, era tipo um intervalo de tantas inquietações amorosas. Era uma coisa daquelas que chega pra te deixar estável, segura. Mas sem bagagens.

Chegou, e já havia certa intimidade. Muitas ligações e muitas sms's dele durante as madrugadas de uma semana inteira. Muito carinho e muita importância. Era tudo que ela estava precisando.

Ela passava por uma fase que pode-se ser comparada á uma TV e suas programações. Chega de novelas e suas histórias que já começam na infelicidade de "alguéns". Ela queria uma minissérie no ar dessa vez. E não uma história "daquelas". Chega destas histórias por esse mês. Essas histórias profundas demais que sempre tem que haver um porque, um começo, meio, fim, explicações do tipo eternas.

Minissérie tem uma espécie de livre arbítrio. Começa do nada na sua TV. Entra sem pedir licença na programação, chega chegando e muita vezes vira foco. Diverte as pessoas de diversas formas, e quando acha que já deu, sai do ar. Assim. Do nada. Sem explicações. Ninguém nunca sabe se ela vai voltar pra programação ou não. Ela tem esse direito. E era isso que aquela mulher queria. Naquele auge da vida. Uma minissérie. Com tanto que não virasse fã numero 1. Tudo ótimo.

Era pouco tempo, pra tanta coisa. Era pouco tempo pra tanto apego. Era pouco tempo e tudo já estava se encaixando. Era pouco tempo e ele já não parava de ligar. E ela pela primeira vez, gostou, mas seu coração não sentiu a grande necessidade de sempre de mostrar isso a céus e mares. Calou. Sentiu e calou. E isso sem esforço algum. Foi tudo automático e espontâneo.

E ela sorria. Não podia acreditar naquilo que estava se passando. Um cara daqueles, do jeito que ela gostava (um dos). Deixando transbordar paixão por ela e ela simplesmente sentindo e vivendo, e não sofrendo e vivendo. Não havia melancolia, e nem muita saudade, e sim apego. Somente. E toda vez que lembrava e sentia esse “poder” nas mãos. Esse poder, que não é de sentir superior a ele, e sim de se sentir superior a seu próprio coração sem precisar de dores ou de cortes. Ah! Ela sorria.

Uma certa satisfação de estar apaixonada sem ter que sair correndo. Ou sem medo daquele cara correr pra longe. Sumir do mapa. Esse medo nela não se fazia presente pela primeira vez em sua vida.

E ela nem sabe se isso vai durar. Mas não está nem aí! Como se foi apresentado... Essa paixão pode ir embora e pode voltar a hora que quiser. Mas sem adeus. Sem certezas, sem decisões, sem armaduras, sem discórdias, sem tapas e lamentações. Sem avisos. Só com um beijo, sexo e tchau.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não há graça

Muitas vezes vejo pessoas querendo se prender pra dar graça aos olhos de quem vê. Mas será que já parou pra pensar, se realmente está preparada para isso? Se o espírito de juntar-se é tão forte assim?

Precisamos sim passar pra crer nas coisas. Eu passei e posso falar. Tentei me jogar num desses relacionamentos descartáveis, por pura curiosidade. E, te falar? Como tantos conseguem? Eu quero demasiadamente obter a resposta. É tão fora de si, tão frustrante, tão maquiado e artificial que nem dá pra sentir quaisquer coisa.

E eu que sou apaixonada por teatro, e pelo ato de atuar. Não vi graça alguma, pois não chega nem aos pés de uma história ou se quer um monólogo. Não há verdade no entanto não há atores.

São pessoas flexíveis que se curvam aos prazeres e discussões de uma platéia sem importância.

De uma platéia diferente, uma platéia que não levanta os corpos pra te aplaudir e sim a voz pra te criticar. E muitos já deviam estar calejados. Mas enfim...

Dizem que balada é perdição. Mas e a carência? Já pararam pra pensar? Ela também é, ás vezes até pior. Certas pessoas não precisam nem beber pra pagar seus melancólicos micos.

A carência é um perigo. O ato de sentir-se carente é uma arma, que muita vezes mata a alma, e o coração sofre constantemente.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Recado aos Moços


Vocês não sabem o que têm nas mãos
Tocam os seios sem saber que no meio bate um coração,
fixam os olhos sem perceber que por trás há uma mente inquieta.
São milhares de pensamentos e sentimentos que pulsam e se confundem,
vocês deviam fazer mais que apenas assistir.

Tenho pena dos que não se arriscam,
dos que não pulam e gostam do morno,
dos que se conformam com piscinas rasas e vidas rasas também.
Tenho pena dos que vão embora cedo, dos que só viajam até a esquina,
dos que pensam mil vezes antes de falar.

Vocês não sabem o que têm nas mãos.
E perdem amores por apostas, perdem companhia por desinformação e cumplicidade por medo.
Perdem tempo. O meu e o de vocês.

Carta aberta para Caio Fernando Abreu

É assim, com um pouco de vergonha de admitir, que só depois de um ano morando no mesmo bairro, a quatro quadras, que resolvi te visitar. Eu faço as coisas restritamente quando tenho vontade, você sabe como é. Meu agosto foi amargo e durou até outubro. Aí decidi: novembro ou nada. Fui te ver. Eu não esperava beber quente algum de seus chás ou mesmo a casa aberta. Aliás, na frente, alguém bacana fez e pendurou uma placa pra você. Nada de dragões, mandalas, morangos, agostos, chás, ovos apunhalados ou ovelhas negras.

Ali onde você escolheu pra viver seus derradeiros dias, após o diagnóstico daquela praga, eu fiquei parado, olhando. Eu queria dizer que senti uma coisa mística, um frisson semelhante ao ler "Sargento Garcia" ou "Sem Ana, Blues", mas não. Eu queria ter encontrado um outro lunático fotografando ou talvez uma garota sentada no meio-fio, entregando pra deus, vai ver porque hoje em dia não existe tanta gente disposta a, como é?, "pegar no seu queixo perguntando - o que foi guria?". Pois é, como você sempre reparou, a vida segue, e não anda nada fácil. Está faltando tudo - trabalho, dinheiro, honestidade, união, paz, felicidade, diversão - e amor o que é mesmo?

Também não queria dizer isto, mas você está perdendo o melhor da festa. Um dia, numa crônica na Zero Hora, não sei se você se lembra - é lá de 1995 - você escreveu algo como "depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu?" Sim, o recado foi compreendido, Girassol. Tenho uma má notícia (ou não): você meio que voltou, sei lá, te ressuscitaram. De um jeito estranho, Caio vive. Como um rockstar, talvez. Caio Fernando Abreu é o novo Caio Fernando Abreu.

Bem, acontece que inventaram um troço de internet. É tipo um telefone com imagem, só que bem mais barato, livre e instantâneo. Tem gente que não sabe usar, mas, cara, já está fazendo páreo com as bobagens da tevê. Olha, não existe horário político ou nobre, as moscas não giram só em volta da grana. Como vou explicar? Meio que a galera decide quem sobe ou desce, saca? Então. Você está lá, em voga, em vários, milhares de canais. As pessoas sempre rogaram por mais cultura e afetuosidade, taí. Ah, seus livros estão na vitrine, quase todos. Também estou atrás de Dulce Veiga? Onde andará?

Você não sabe (ou sabe), mas as pessoas estão lendo mais, tentando sentir mais, sorrir mais, se comunicando e compartilhando mais, escrevendo mais, emburrecendo menos com a televisão e comendo menos morangos mofados. Tem que ver, coisa mais linda. De um jeito esquisito, prático e por vezes frívolo, é gente interligada pelo fio condutor do trabalho, das coisas, da saudade que você deixou. É como se todos fôssemos um, como se cada um de nós fôssemos responsáveis por respirar uma célula do seu corpo. Anos depois, só agora. É tudo tão irônico, não?

Quiçá foi melhor assim, Machado de Assis também não foi devidamente honrado em vida e, no duro, você é o maior depois dele, eu acho. Mas há uma lição aí, viver como aquela do Sinatra, "My Way". Você tinha razão, dá mais certo. Ah, obrigado por tudo, principalmente por me levar a Jack Kerouac, que me levou a Bukowski, que me levou a John Fante e por aí vai. Me fez quem eu sou, e sou feliz por causa disso. De um modo ou outro, fazer alguém mais feliz não é pouca coisa, rapaz.

Sinto muito, mas há boatos de que o sobrado de estilo espanhol colonial agora abriga uma família. Pintaram de verde e vão instalar uma piscina. Parecem legais e alegres. Inegavelmente, há mais vida ali. É a impermanência, de um dia pro outro as coisas deixam de existir, nada dura para sempre. É o jogo, quase sempre a felicidade de um, começa na queda de outro. Um beijo carinhoso na testa, com "toda nossa saudade e o nosso amor de sempre". Descanse bem tranquilo. Se conseguir, claro. Porque daqui vamos continuar fazendo barulho.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Chega de peso

Era só dúvida. Não tinha mais vontade alguma inerente. Interesse algum, prazer algum, desejo algum, era só duvida mesmo. Nem medo de reprisar qualquer cena, era só duvida. Ir ou não ir? Continuar ou parar? Parcelar quem sabe? Não, acho melhor ir, aproveitar a boa conversa e companhia, não vai acontecer mais nada além disso, calma. Nem tem porque acontecer alguma coisa, ambos já traçaram seus caminhos, decidiram suas vidas? Acho que sim. É o que me parece.

É o que está exposto para todos. Já o que está escondido não se sabe, na verdade não se sabe nem, se há alguma coisa escondida nessa altura do campeonato.

E hoje, felizmente eu só posso ver o que está para todos. Eu que não me atraco mais pra tentar desvendar os sentimentos e pensamentos obscuros de alguém.

Não quero entrar nessa de só eu vê. Porque daí em diante vai ficar muito pesado para mim como sempre. Além de só eu vê, só eu vou sentir, só eu vou entender, só eu vou compreender, só eu vou sofrer junto com você. Tô fora!

E disso vem muito mais, como os velhos clichês de quando você se desesperar ou se estrepar com a vida e mais uma vez só eu vou poder “te salvar”, “te entender”, “te acolher” e por aí vai...

Estou calmamente cansada desse peso constante de preocupações que além de tão alheias, são tão destrutivas. Eu que sempre tive peso pena, tô pesando a ponto de precisar de uma nutricionista urgente. Quer dizer, analista... Porque o peso aqui é de espírito.

Mas voltando a um alguém aí. Não sei bem qual sentimento me cabe. Talvez não tenha o que sentir, é isso. É perder certos conceitos, para entender outros. É como diz um amigo meu para mim: “Seu conceito de mal educada anda errado demais.”

Acho que é isso. Preciso perder esse transe de não querer ser tão radical com as pessoas, enquanto elas dizem e falam o que bem entendem sem um minúsculo medo do que eu possa pensar.

E tentando me afastar um pouco de mim agora, nesse exato momento, eu consigo ver o quão absurdo isso é. Eu vivo querendo poupar as pessoas, e me largo de canto. Não parece, mas qualquer pessoa que olhar bem no fundo do meu cotidiano, vai perceber que eu faço isso até sem querer. Até querendo ser o oposto.

Porque é como esse mesmo amigo meu me diz: “É por isso que você se dá mal, você acha isso certo? Ta sendo legal pra você isso? Acorda!”

E pra chegar na fase d’eu abrir os olhos e concordar com meu amigo, demorou viu?

Mas nada que um dia não chegue, né? Seja a verdade, a mentira, a amizade, o amor, a decisão, a paixão, o desapego, a responsabilidade. Seja lá o que for, um dia chega...

E chega daquele jeito, pedindo tudo que tem direito, te expulsando, te levantando, te animando, abalando suas bases, construindo e desabando, e até traindo suas expectativas... Mas não deixando a desejar em nada.

Pode pôr certeza nisso, esse dia chega, tudo chega.

O momento pode ser a qualquer hora. A gente busca, rebusca, apressa, anda rápido, acelera, ultrapassa, corre, e quer porque quer pular obstáculos. Mas não vai adiantar. Isso não vai alterar a posição das coisas.

Aprende aqui, mas uma coisinha... Pessoas pra isso primeiro, e outras pra aquilo primeiro. Então aceite o que vier como seu “primeiro” e cresça pros próximos capítulos.

E concluindo a situação... Eu sigo na dúvida, sigo sem saber se “ponto final”, se “ponto parágrafo”, se “reticências” ou se prolongo esse “ponto de interrogação“. Eu continuo esperando a minha primeira vontade bater, e a que vier, será e pronto.

Mas de uma coisa estou certíssima... Revi meus conceitos. Estão novos em folha, e estou fazendo questão de praticá-los arduamente.

E o sabor é... Que doa a quem doer, e se caso for que doa até em mim. Mas meu amigo, o meu ferimento primeiro. Depois tratemos o seu.

Marcella Rios

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Entre com calma...

Eu sei que não foi você que desarrumou minha vida e fez essa bagunça toda que tive que arrumar gradualmente enquanto cuspia minha raiva, minha dor, mas, por favor, para entrar aqui agora é preciso pés descalços e nenhuma armadura. É por eu não ter deixado de confiar nas pessoas que te peço isso. Não existe tristeza em mais nenhum canto desta casa, tudo foi limpo e adornado com amor, saiba receber esta dádiva. Não quero saber agora o que você traz do seu passado enquanto a água do chá ferve, e também não me pergunte o que me aconteceu para que eu esteja assim, tão direta. É possível que eu te convide pra dormir aqui esta noite ou te mande embora às três da manhã, espero que não se aborreça ou crie expectativas enquanto ponho a erva doce na água quente. Eu não tenho açúcar, empedrou desde que. Enfim, você quer com ou sem adoçante? Não me prometa nada, eu vivo um dia de cada vez, só tenho memória recente. Sobre ontem, pouco lembro, sei que fui dormir e antes conferi se todas as portas estavam trancadas e se eu estava feliz. Também sei que ainda era cedo, e que fazia muito frio. Mas, sim, eu estava feliz.

Vou deixar apenas a luz do abajur acesa, e o seu cd de jazz tocando bem baixinho pra que eu escute como foi seu dia e o que você gosta de ler. Não é que eu não goste de me expor, mas a semana passada já faz muito tempo pra mim. Mas se te interessa saber, meu coração está desocupado e eu gosto quando você me abraça forte. Talvez isto seja o suficiente para que você chegue mais perto de mim e conviva sem se incomodar com o silêncio que eu carrego nos olhos. O que me atraiu em você foi a sua beleza física com esta sensibilidade e inteligência juntas. Mas aprendi a descartar até essas qualidades em um homem se não houver essa nudez de alma. Os inteligentes podem ser muito espertos e cruéis. Os bonitos podem ser uns tolos. E os sensíveis, muito dramáticos. Eu não estou endurecida, só aprendi a observar com certa malícia, preservo minha inocência, mas me arrancaram a ingenuidade à força, disso eu lembro. Não me fizeram mal algum, nada que não houvesse a permissividade da minha carência. A responsabilidade também foi minha. Você está confortável nesta posição? Aprendi a me enroscar num outro corpo como se eu fosse uma extensão dele. Eu gosto de me aninhar no afeto, nasci para ser acariciada antes, durante e depois do sexo. Mas hoje talvez eu queira que você vá pro seu apartamento_ me deu vontade de escrever alguma coisa sobre a sua voz, antes que ela fique no passado.

Se quiser esquecer seu cd, talvez eu te convide pra jantar amanhã. E te leia alguma coisa mais doce que aquele açúcar empedrado. É que eu ainda não esqueci como se escreve o começo de um romance. Só aprendi que o interesse do leitor vai depender da minha primeira frase.

Então eu prefiro que você volte amanhã. É que eu preciso sentir saudade antes de me apaixonar.

A mudança necessária

Talvez haja muita acidez na lucidez, talvez haja a percepção de detalhes das belezas que nunca reparamos. Quando estamos num turbilhão emocional, as imagens turvas pedem anestesias e a gente acha que obtém algum controle sobre as coisas, porque pensamos que podemos deixar pra cuidar da nossa vida amanhã. Mas à medida que protelamos nossa transformação, à medida que adiamos nossa mudança, adiamos também uma forma nova de sentir outras alegrias. E fechamos os olhos pra quem está ao lado, ou banalizamos um possível encontro que poderia desencadear uma história mais bonita. Ter a felicidade como um propósito, é a coisa mais difícil que conheço. Estamos sempre fugindo de nós mesmos e nos julgamos espertos demais com a porção de pequenas mentiras que nos inventamos. Mas a angústia que vem disso não nos deixa esquecer que só estamos adiando um processo precioso e delicado demais já que podemos continuar nos anestesiando. É preciso estar pronto, mas estar pronto também é transitório. E é preciso lucidez e coragem pra enfrentar o nosso pior inimigo: nós mesmos. Admitir que estamos nos fazendo mal com alguns hábitos ou relacionamentos destrutivos é assustador. E muitas vezes a sensação de impotência é o que impera. Somos imediatistas demais e não queremos sentir dor. Camuflamos nossa infelicidade da forma mais adequada que podemos. E passamos boa parte da vida sendo quem não somos. Até que nos esquecemos de quem somos e vivemos aquela máscara social por tempo demais, mas sempre com aquela sensação de que alguma coisa está fora do lugar, nutrindo relações vazias e breves com medo de sermos descobertos.

Quando entrei em reclusão para organizar o que estava fora do lugar, tive uma das piores sensações da minha vida: era uma espécie de crise de abstinência e a bagunça estava tão arraigada que eu não sabia por onde começar a arrumar as coisas. Foram noites e dias enfrentando a vida de peito aberto, e sangrava. Eu chorava baixo e pedia paciência. E tinha pesadelos todas as noites. Acordava cansada e com o olhar mais triste que já tive. Até que tudo foi se ajeitando aos poucos, dentro do meu tempo e dos meus limites. Eu estava num processo de cura e não percebia.Mas estava buscando avidamente ser quem eu realmente era, ou pelo menos, melhor.

Hoje, eu consigo olhar pro meu passado como uma espectadora. E apontar cada detalhe e cada erro e acerto e cada instante e sensação e fuga. As projeções que fiz, as dependências que criei, as compulsões que tive, hoje são um presente de maturidade e otimismo. Porque comecei a atrair pessoas, histórias e assuntos mais leves, saudáveis. E criei pra mim uma rotina de paz, e deixei de admirar muita gente e a apreciar outras.E vivi muita solidão, muita solitude, muito aconchego também.

Hoje sou tão grata por tudo que doeu, por tudo que sangrou, pelo sono perdido. Retomei o controle da minha vida e estou sendo amada de uma maneira que me deixa mais segura. Perdi meus medos, sobrou apenas a minha fobia de altura. E, por menos que eu tenha escrito, a poesia sempre esteve em mim.

Brindo com vocês esta fase nova em que ,finalmente, conheci a tranqüilidade. Se eu tinha esquecido desta frase, hoje eu posso repetir com o coração cheio de certeza: TUDO VAI DAR CERTO SEMPRE, porque a vida se encarrega das coisas e ela nos compensa com ela mesma.

Obrigada a vocês, ao Universo e a todos os amigos que respeitaram minhas etapas com compreensão e paciência. E obrigada também a mim, que tive coragem e escolhi sobreviver a tudo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Então, eu escrevo...

Escrever é como deixar escapar uma parte nossa que até nós mesmos desconhecemos. Desvendar um novo mundo que de tão perto, se tornou para quase todos nós, distante demais. É tentar o impossível: fazer com que o coração controle nossas mãos sem pedir a ajuda do cérebro ou talvez, criar pessoas e personalidades, sem pedir a ajuda de Deus.

Às vezes, acho que o dom da escrita é uma espécie de mediunidade. Por instantes, semanas ou meses, vida fora do corpo. Por que não? Considerando todas as certezas que temos, eles são me parecem tão reais quanto nós. Às vezes, até um pouco mais. Pra mim, o mundo descrito em palavras sempre fez mais sentido.

Então, escrevo. Quando acabo, sinto uma espécie de alívio. Como se a ordem daquelas palavras estivessem influenciando na frequência das batidas do meu coração. Como se alguém precisasse mais daquilo do que eu. De alguma forma, quando as frases se encontram, e se vão junto ao ponto final, por dentro, tudo volta estranhamente normal.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mulheres mandonas


Conheço um cara que morre de medo da namorada. Ele não pega carona com mulher, não almoça sozinho com mulher, não fica de papo com mulher em público. “Vai que alguma amiga da Fulana passa e conta pra ela...” Entre as amigas e amigos, A Fulana virou uma instituição. Uma vez, ele estava entrando no cinema com ela quando deram de cara com uma ex, que saia da sala. Sabedor da fera que tem em casa, meu conhecido fez um mínimo movimento com a cabeça, esboçou um terço de um sorriso e cumprimentou: “Oi Paula”. Foi o que bastou. Assim que a ex virou as costas, A Fulana saltou sobre ele, possessa: “Oi Paula? Oi Paula? Você pensa que eu sou idiota? Acha que eu não percebi?”... Como o sujeito é bonito e as mulheres perceberam que ele está acuado, virou alvo das provocações femininas. É convidado a torto e a direito para sair, jantar, beber, dar e receber carona... Ofertas que ele recusa ou ignora, com a cara conformada de quem virou alvo das piadas do bando. Quando se queixa, não é da namorada, mas da falta de senso das colegas do trabalho, que não dão folga: “Assim a Fulana me expulsa de casa”. Se você está com pena dele, não perca seu tempo: o cara parece feliz. Todos os dias, quando volta para os braços da Fulana, ele renova a opção de ser controlado por ela. Como não tenho intimidade com ele, nunca perguntei por que topou um arranjo matrimonial que me parece tão opressivo. Mas tenho certeza que qualquer resposta que ele me desse não ajudaria a entender suas razões. Esse tipo de escolha nunca é racional e raramente é explicável. Os homens usam clichês como “Sou louco por ela” ou “Não me incomodo com o temperamento dela”. Mas esses lugares comuns não explicam nada. A verdade inconfessável é que muitos homens gostam de ser controladas, ou, de alguma forma íntima, precisam desse controle, embora protestem e esperneiem. Mas isso tampouco explica alguma coisa. A combinação de mulher brava e homem obediente - qualquer que seja a razão da sua existência - é bastante comum. Lembro de um rapaz que trabalhou comigo e ficava vermelho só de falar com a namorada ao telefone. Se alguma das colegas resolvia fazer gracinhas durante um desses telefonemas reverenciais, ele ficava paralisado de medo. Outro colega contou que foi tirado da cama e posto a lavar roupa pela namorada na manhã de sábado, como se fosse um adolescente rebelde. Ele obedeceu, lavou até a última meia, mas jura que, naquele momento, decidiu que era hora de procurar outro apartamento. Continua com ela até hoje.

Não acho que seja o caso de zombar dos pobres coitados. Vistos de perto, somos todos patéticos. Mulheres doces nos impõem sua vontade com olhares tristes, mulheres organizadas dão ordem na nossa vida e se colocam no centro dela, mulheres maternais enchem a nossa casa de adoráveis crianças. Isso acontece todos os dias, envolvendo homens adultos com considerável caráter. Não acho que seja apenas o resultado da negociação entre iguais. Nem de coerção. Minha impressão é que os homens, quando admitem uma mulher na vida deles, assumem que elas vão de alguma forma tomar conta. Há uma espécie de rendição. Talvez comodismo. O grau em que isso acontece varia, mas a direção é sempre a mesma: elas controlam. Mulheres bravas só tornam explícita uma situação que na maior parte dos casos é sutil.

De onde vem esse comportamento? Da mãe, claro. Nós, homens, somos os filhos. Rebeldes ou obedientes, mas filhos. E elas, mulheres, são as mães. Bravas ou meigas, mas mães. É simples, é impressionante e às vezes me parece inexorável. Depois de ser gestado, parido, amamentado, alimentado, acalentado, aquecido, protegido e repreendido por uma mulher, durante toda infância e boa parte da adolescência, quando o nosso cérebro e nossa personalidade estão em formação, como é possível se relacionar com outra mulher sem assumir, em alguma medida, o papel de filho? Não sei. E a minha analista não me conta. No dia-a-dia, o que os homens fazem é administrar a tendência controladora das parceiras e a sua própria vocação para ser domesticado. Falava ontem com um amigo que está casado pela segunda vez, com uma mulher consideravelmente mais delicada do que a primeira. Ele me dizia como, anda assim, é difícil manter o leme da própria vida. Ela é organizada, metódica, determinada e, se ele bobear, sequestra a agenda da casa. Como isso fez muito mal ao seu primeiro casamento, ele tenta evitar que se repita. “Às vezes eu engrosso só pra marcar posição, mesmo sabendo que ela vai prevalecer”, ele me disse. O lado bonitinho disso tudo é que o laço da dependência se fecha apenas com amor. Se uma mulher tentar controlar um sujeito que não gosta dela, vai dar com os burros n’ água. Por linda ou gostosa que seja. O controle é emocional, não sexual. Em algum momento antes de se submeter, o cara tem de sentir medo de perder a atenção daquela fêmea terna ou esbravejante. Com o tempo, a obediência pode se converter em hábito, mas ela começa como paixão. Com o tempo, a submissão também pode se converter em ódio puro e simples, e esse é um bom motivo para evitá-la. Outro motivo é que esse tipo de relação broxa. As mulheres adoram nos domesticar, mas rapidamente enjoam de homens que precisam da aprovação delas para tudo. É um paradoxo que elas frequentemente não percebem – mas que nós, se gostarmos delas, deveríamos aprender a perceber. E evitar.



O texto mais lindo que já li...

O choro secou. Um outono doce impera com seu aconchego de amor e lucidez, suaves. E esse abraço aveludado que chegou repentinamente, num calorzinho de cuidados e curas. Não restam mais feridas. A dor perdeu seu lugar na minha rotina e foi procurar outros rumos. Tenho novos sonhos e um sono novo e profundo. Suavemente tudo mudou de ritmo e celebrei o tempo de cada novo passo. A princípio tive tanta ansiedade, porque tudo parecia um turbilhão, mas de que adianta tentar pular aprendizados? Se é de poesia que o poeta precisa, vamos a ela e não mais à repetição de uma melancolia eterna e bem aprimorada. Chuva e sol, calor e frio: eis o equilíbrio da vida. Se eu nasci com o sorriso mais largo do mundo, não vou entristecer o meu olhar nem anestesiar minha alegria. O choro secou. Já era tempo de prestar mais atenção em outras cores, promover como prediletas outras flores e entrar no mar sem medo, furando a onda com respeito e repetindo a cena com entrega e confiança. Nada ficou fragmentado. Saí inteira e o amor em mim transborda: pele aceitando carícia, olhar brilhando com a menor das delícias. O toque é novo e a respiração tranqüila. Às vezes ainda ofego um pouco, mas quem disse que artista nasceu para sentir pouco? Importante agora é que o choro secou. Antes o meu pranto era cego. Tive que olhar longamente no espelho pra saber o que ainda poderia resgatar de mim. Não quis nada do que restou, quis o meu sorriso novo, minhas portas abertas e a vontade de saltar novamente no desconhecido. E hoje eu só choro se for de alegria.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quem procura, acha

Qualquer um de nós porta pelo menos algum, ou talvez dois, ou todos, dos sentimentos a seguir: dor, autodesprezo, rancor, miséria, tristeza, solidão, não-fé, desgosto, ressentimento, carência, raiva e mais um quinhão de outras comoções mal-cheirosas e subcutâneas. Eu gostaria muito de dizer aos mais jovens que com o tempo isso tudo passa, mas não seria honesto.

Quanto mais velho você fica, mais próximo da morte você está; logo, mais emotivo e ávido por companhia você fica, porque é tempo aperfeiçoar seus laços e entrar sem dívidas no leito de morte - leitura de apoio: "Memórias de Minhas Putas Tristes", García Márquez. E, enquanto isso, proporcionalmente, irônicos com nossas próprias vontades, estamos todos sincronizadamente ficando mais cínicos acerca do amor e propensos à sacanagem.

Se você faz o tipo de sujeito sofisticado, deve estar preso em algum tipo de terapia, buscando absolver seu coração de algum, ou talvez dois, ou todos, dos sentimentos supramencionados. Já se você também é pobre, deve pedir auxílio à música pop - a psicanálise genérica - e seus fones de ouvido também estão no bidê, como placebos pra insônia. Ambos estamos errados. Tenho um amigo na área e uma vez entrei sorrateiramente no assunto: pílulas qualquer um receita, você já pensou restringir as canções do cotidiano de um paciente?

Quando você passa semanas lamentando uma perda com seus amigos e eles dizem "cara, vira o disco", bem, isso está errado. O certo seria desligar o som de uma vez por todas. No prontuário do neurótico infeliz potencial suicida deveria vir preescrito: duas doses de Prozac ao dia, tampões de ouvido e evitar escutar canções.

Se você já assistiu "(500) Dias Com Ela" sabe do que estou falando. Vinte e cinco segundos. Eu contei. Vinte e cinco segundos podem representar sua ruína. É o tempo que dura aquela cena no elevador, quando Tom está escutando "There Is a Light That Never Goes Out" e ela, graciosamente chega perto diz "Eu amo os Smiths!" e ainda canta um trechinho da canção feito um gatinho doente, dançando com olhos e pescoços e franjas e todos aqueles quilômetros de lábios róseos feito morango em foto publicitária. Vinte e cinco segundos, cara. E você foi surrupiado de si mesmo e está fodido por uns cinco anos.

Existem campanhas exaustivas alertando a população sobre a combinação de álcool e direção e ninguém faz nada a respeito da mistura garotas e canções. Eles dizem com seus cartazes "olha o que aconteceu com Paulo, de 22 anos". E daí? Não é impossível viver sem uma perna. Quero ver você ser tolhido de caminhar pra frente e viver um ano inteiro andando feito caranguejo por causa de uma Ana ("Ana's Song", Silverchair), uma Verônica ("Veronica", Elvis Costello), uma Marlene ("Marlene", Todd Rundgren), uma Ramona ("Ramona", Beck), ou um pouco mais difícil, uma Roxanne ("Roxanne", Sting).

Pare agora, com tudo que você está fazendo. Dê pause, minimize seus compartilhadores de música online, não procure trilhas sonoras, deixa pra lá esse barulhindo incomodando sua cabeça há dias. Não importa de qual banda, de que filme, o que porra isso te lembra. Esqueça, para seu próprio bem estar. Sério, vai por mim. Ninguém mais do que eu sabe mais do que sobre dor, autodesprezo, rancor, miséria, ressentimento, carência, etc. Bem, talvez Thom Yorke. Há uma lição escondida aqui e espero que você tenha entendido: quem procura, acha.

Comigo estava tudo bem até que descobri "Kiss Is On My List", Hall And Oats, e me apaixonei. Primeiro pela música, mas como fiquei onírico e vulnerável, logo encontrei uma garota impossível e com perfume de erva-doce pra ilustrar a mensagem que aquela ótima letra de merda queria me passar. Saldo? Agora, como Tom de "(500) Dias Com Ela", eu detesto essa música, eu odeio essa morena. Quer dizer, eu amo as duas coisas, mas sabe como é.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Me deixem"

As pessoas acham que ando deprimido. Não vou desmentir, prefiro deixar assim, é até bom. Os deprimidos podem agir de modo esquisito e não precisam justificar suas bobagens o tempo todo. Ele é um deprimido, quem se importa? Recebam meu recado: eu até que estou indo bem.

Somente descobri que, no momento agora, só consigo ir com as caras que nunca mais verei, só consigo me apaixonar pelo que assumidamente é feito de pó. Não faça como o resto da cidade, não ultrapasse meu semáforo depois que já fechou. A pressa é inimiga da direção. E a gente se vê, ainda. Promessa.

A má notícia é que, a julgar pelo meu entusiasmo nos últimos dias, morri. Até já decidi minha lápide - "Viveu lutando pelo amor e as sensações que valem a pena ser vividas. Fracassou miseravelmente." - O que você acha? Nem tô, na verdade. Me deixem.

A boa notícia é que não perdi o telefone de ninguém, apenas minhas falas teatrais dentro do grupo não fazem muito sentido nesta temporada. Ando menos polissilábico, menos colorido, menos espalhafatoso, menos vaidoso, menos inventado. E não consigo ver onde está meu erro.

Falando sério, tenho andado bastante sozinho, sobretudo ultimamente. É um tempo de agitações, de ímpetos de impaciência, ansiedade e mau humor. Contando com a resolução das coisas, que chegue logo um futuro que sei que virá, sabendo que nada mais depende de alguma ação minha. Só da minha habilidade em esperar. E isso me lembra que não há mais com quem contar, além do tempo. Que ando meio sozinho e assim eu quis, de certa forma.

Será tão errado assim brincar de perder tudo, algumas vezes por ano? Quase tudo, você ainda tem seu chá de capim-cidreira e todas aquelas canções em MP3 da Joni Mitchell para catalogar, os dois novos livros do John Fante para deglutir.

Pode não ser uma parte boa da minha vida, assistindo de fora. Mas não consigo sentir isso justamente porque não é tempo de sentir muita coisa. São apenas experiências com o estoicismo, fora isso, como eu disse, estou legal. Não perca tempo com preocupações ou sentindo saudades. Saudade é um amor que chegou atrasado após dormir demais.

E eu tenho tentado dormir demais, querendo me congelar para o futuro melhor. Um futuro bom, assim como foi bom esse nosso passado. É o presente que não estou sabendo como viver. Acredite, hoje, estamos melhores separados. Ou, ao menos, mais verdadeiros.

Desilusão Amorosa

Já vi muitas pessoas chorando por uma desilusão amorosa. Já ouvi falar até de pessoas que se mataram por isso. Sempre que penso no assunto, imagino o quanto deve ser difícil encarar a realidade e admitir para si mesmo que acabou quando o adeus foi ouvido e não dito. Apagar os telefones, tirar fotografias de porta retratos e contar para o mundo quem é a mais nova dama solitária da cidade é quase uma tortura que uma hora ou outra, todos nós passaremos.

O que piora tudo é essa nossa mania de dramatizar as coisas. O "The end" não foi feito pra durar pra sempre. Fim, é fim e pronto. Talvez, se começássemos a enxergar essa fase de uma maneira mais simples, sofreríamos menos e nos entenderíamos mais.

Primeira lição: Algumas coisas são inevitáveis, e mesmo que não pareça agora, necessárias. Por exemplo: Consegue lembrar de você antes do seu primeiro relacionamento? O quão ingênua e imatura era? Temos que entender que sofrendo ou não, um relacionamento ensina muito pra gente. Nunca se trata de desperdício de tempo (ou maquiagem) quando conseguimos tirar uma lição do que aconteceu (escreva um texto pra isso, comigo funciona muito!) e seguir em frente, melhores e mais mulheres.

Segunda lição: Se precisar, passe um dia todo na cama comendo besteiras e assistindo suas séries preferidas ou lendo aquele livro que comprou e ainda nem teve tempo de ler. Viva vidas fictícias por horas seguidas. Enterre-se dentro de você mesmo até o momento em que perceber que está na hora de nascer novamente. Exatamente como uma flor. Ainda frágil, mas viva.

Terceira lição: Lembre-se: Quem não consegue viver bem e em paz sozinho, jamais conseguirá fazer isso em parceria. Antes de partir pra outra ou tentar reconquistá-lo, realinhe seu planetas interiores. Faça coisas que costumava fazer quando solteira. Ligue para aquelas amigas que se afastaram graças ao namoro. Veja como sua vida independe da dele, e depois, se ainda sentir vontade, tome alguma atitude em relação ao que aconteceu.

Por mais triste que o fim pareça, ele frequentemente é uma nova entrada para um próximo, 99% dos caras que você conhecer não serão os certos pra você. Entenda isso, e pare de achar que você ele são protagonistas de uma série americana. Na vida real, às vezes, os figurantes são mais interessantes do que você pode imaginar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Com urgência

"Eu morro um pouco a cada espera que a vida me faz viver.

Eu morro um pouco a cada dia. (mas quem não morre?)

Preciso me encontrar.

Com urgência.

Vejo coisas que me assombram, me assolam, me magoam muito. Mesmo que nada tenha a ver comigo, é como se eu fosse espectadora de um mundo que na verdade não me pertence, e isso dói. Me questiono muito a respeito de tudo que me acontece, sempre me questionei, mas há tempos tenho apenas aceitado o destino, e ele não tem sido lá muito satisfatório. Poderia, sim, fazer algo apenas para criar emoção dentro de mim (aquela que já se perdeu faz tempo), mas eu tenho tanta certeza do que eu realmente quero que não sei se vale a pena arriscar o que de fato é efêmero e sempre será. Não me vejo sendo coadjuvante, mas a vida também não me tem posto como protagonista. Tem sido complicado aceitar o que me vem, não que eu deva, eu apenas aceito por não ter como mover águas ao redor de mim. Seria mais fácil ser super-heroína, me lançar de peito aberto e os arranhões fecharem por si só. Mas sabemos que a vida não é assim.

O que estou vivendo hoje é como uma reprise ou um remake mal feito e ao mesmo tempo é um saco vazio em pé sem saber como. Eu sou o saco. Olho para frente e não vejo nada, nenhuma perspectiva em direção alguma, nem o amor, nem na profissão. É como se estivesse pausado, há muito tempo. E hoje eu não posso mais esperar, mas espero porque a vida está assim e eu como não quero me frustrar novamente, a aceito assim. Não que não me mova, eu me movo, mas nada ocorre. Não há planos, porque não há o que planejar. Eu vivo um dia atrás do outro sem a emoção, sem a expectativa (há quem goste, eu não), sem o saber do depois ou ao menos ter noção do que vem. Eu estou sozinha, eu sou o saco vazio em pé e as coisas me doem, doem fino no peito, e eu não tenho mais idade para ficar aqui esperando.

Com urgência, preciso me encontrar."


ADOREI... Texto de 'Datilografia para amadores'


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Eu achei que tivesse... MAS NÃO TENHO!

Eu achei que tinha culhão para aturar tudo isso de novo. E hoje eu vi que talvez não tenha mais saco para viver uma coisa que já vivi. Dá uma sensação de cansaço absurda isso. E nem sempre trocar solidão por qualquer outra coisa faz sentido.

E que merda, sabe? Que merda! Porque porra! podia ser completamente diferente, podia estar sendo diferente, podia ter me acontecido qualquer outra coisa e não essa, sabe. Que merda! Mais ainda por não ter viva alma que entenda, e não há porque tudo acontece diferente de uma pessoa pra outra. E trocar uma solidão por uma solidão assistida não vale a pena mesmo e eu sei. SE sei. O foda mesmo é olhar pro lado e não ter, e a possibilidade que procurei por mais de 2 anos, não existir.

É muita petulância achar que se é a última coca-cola do deserto, que chegando e fazendo as mesmas coisas vai ter o mesmo resultado. O bom de mudar é isso, a gente sabe os passos porque já viveu, mas não tem as mesmas atitudes pelo mesmo motivo.

Eu achei que tinha culhões para tal, mas nem é falta de força ou coragem, é só que hoje eu sei que, apesar de parecer, esta não é a minha única possibilidade. A minha possibilidade é outra, apesar do Universo estar querendo me sacanear. Aff...