segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quem procura, acha

Qualquer um de nós porta pelo menos algum, ou talvez dois, ou todos, dos sentimentos a seguir: dor, autodesprezo, rancor, miséria, tristeza, solidão, não-fé, desgosto, ressentimento, carência, raiva e mais um quinhão de outras comoções mal-cheirosas e subcutâneas. Eu gostaria muito de dizer aos mais jovens que com o tempo isso tudo passa, mas não seria honesto.

Quanto mais velho você fica, mais próximo da morte você está; logo, mais emotivo e ávido por companhia você fica, porque é tempo aperfeiçoar seus laços e entrar sem dívidas no leito de morte - leitura de apoio: "Memórias de Minhas Putas Tristes", García Márquez. E, enquanto isso, proporcionalmente, irônicos com nossas próprias vontades, estamos todos sincronizadamente ficando mais cínicos acerca do amor e propensos à sacanagem.

Se você faz o tipo de sujeito sofisticado, deve estar preso em algum tipo de terapia, buscando absolver seu coração de algum, ou talvez dois, ou todos, dos sentimentos supramencionados. Já se você também é pobre, deve pedir auxílio à música pop - a psicanálise genérica - e seus fones de ouvido também estão no bidê, como placebos pra insônia. Ambos estamos errados. Tenho um amigo na área e uma vez entrei sorrateiramente no assunto: pílulas qualquer um receita, você já pensou restringir as canções do cotidiano de um paciente?

Quando você passa semanas lamentando uma perda com seus amigos e eles dizem "cara, vira o disco", bem, isso está errado. O certo seria desligar o som de uma vez por todas. No prontuário do neurótico infeliz potencial suicida deveria vir preescrito: duas doses de Prozac ao dia, tampões de ouvido e evitar escutar canções.

Se você já assistiu "(500) Dias Com Ela" sabe do que estou falando. Vinte e cinco segundos. Eu contei. Vinte e cinco segundos podem representar sua ruína. É o tempo que dura aquela cena no elevador, quando Tom está escutando "There Is a Light That Never Goes Out" e ela, graciosamente chega perto diz "Eu amo os Smiths!" e ainda canta um trechinho da canção feito um gatinho doente, dançando com olhos e pescoços e franjas e todos aqueles quilômetros de lábios róseos feito morango em foto publicitária. Vinte e cinco segundos, cara. E você foi surrupiado de si mesmo e está fodido por uns cinco anos.

Existem campanhas exaustivas alertando a população sobre a combinação de álcool e direção e ninguém faz nada a respeito da mistura garotas e canções. Eles dizem com seus cartazes "olha o que aconteceu com Paulo, de 22 anos". E daí? Não é impossível viver sem uma perna. Quero ver você ser tolhido de caminhar pra frente e viver um ano inteiro andando feito caranguejo por causa de uma Ana ("Ana's Song", Silverchair), uma Verônica ("Veronica", Elvis Costello), uma Marlene ("Marlene", Todd Rundgren), uma Ramona ("Ramona", Beck), ou um pouco mais difícil, uma Roxanne ("Roxanne", Sting).

Pare agora, com tudo que você está fazendo. Dê pause, minimize seus compartilhadores de música online, não procure trilhas sonoras, deixa pra lá esse barulhindo incomodando sua cabeça há dias. Não importa de qual banda, de que filme, o que porra isso te lembra. Esqueça, para seu próprio bem estar. Sério, vai por mim. Ninguém mais do que eu sabe mais do que sobre dor, autodesprezo, rancor, miséria, ressentimento, carência, etc. Bem, talvez Thom Yorke. Há uma lição escondida aqui e espero que você tenha entendido: quem procura, acha.

Comigo estava tudo bem até que descobri "Kiss Is On My List", Hall And Oats, e me apaixonei. Primeiro pela música, mas como fiquei onírico e vulnerável, logo encontrei uma garota impossível e com perfume de erva-doce pra ilustrar a mensagem que aquela ótima letra de merda queria me passar. Saldo? Agora, como Tom de "(500) Dias Com Ela", eu detesto essa música, eu odeio essa morena. Quer dizer, eu amo as duas coisas, mas sabe como é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário