quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Raspas e Restos

Eu senti aquele trisco na barriga que as pessoas devem sentir quando sabem que chegou a vez. Aquela sensação de possibilidade. Uma espécie de "agora vai" em êxtase cardiovascular. Eu sabia que agora ia pelo jeito bacana, inusitado, marcante e dolorido que a gente se conheceu. Como aqueles casais quarentões e casadões, quando alguém pergunta "mas me conta, como vocês se conheceram?" e aí os dois sintonizam um entreolhar e narram uma história legal. Nós poderíamos ter contado essa historinha com um risinho sacana e uma vermelhidão no rosto. Seria bem bacana.

Primeiro encontro: meu tornozelo inchado e eu evitando chorar na frente de um desconhecido não muito bonito, mas cheiroso, gentil e naturalmente engraçado. Você pedindo um café e três pedras de gelo e a funcionária achando tudo meio estranho. Segundo encontro: pelo mistério que você fez no telefone fiquei com medo de ser levada pra algum parque temático cheio de dinossauros clonados, mas não, um refrigerante no banco da praça foi até mais surpreendente com aquele céu baunilhado e os artistas de rua.

Aí o terceiro encontro, o primeiro beijo, aquela história sobre ensinar violão para crianças órfãs (ou eram cegas?), aquele risoto de legumes naquele seu fogão moderno, aquele vinho "que apresentava uma coloração vermelho-púrpura e era intensamente frutado e complexo e com uma harmônica e encorpada estrutura límpida em seus tons violáceos", e depois outro papo sobre ir devagar, conhecer bem, criar uma atmosfera íntima antes de fazer sexo. E aí, por fim, eu na manhã seguinte procurando meu sutiã atrasada para o brainstorming daquela marca de pepino em conserva, logo na primeira hora. E você dormindo como se não houvesse ontem.

Quarto encontro: refrigerante no banco da praça e sexo na sua casa. Quinto encontro: jantar e sexo na sua casa. Sexto encontro: teve de ser remarcado porque você viajaria cedo pra Taubaté e até agora não voltou, o que é bem compreensível, sei como é, duas semanas é pouco pra usufruir tudo que Taubaté pode oferecer mais e melhor do que eu.

Que eu errei em alguma parte do processo é indiscutível, só estou ligando pela quinta vez porque quero saber mais ou menos onde foi. Talvez eu não tenha me dado conta que no segundo refrigerante na praça nosso relacionamento já havia caído num marasmo, mas você podia ter falado comigo, eu daria um jeito de ter querido suco de laranja ou, quem sabe, poderíamos buscar algum aconselhamento para casais atravessando a crise dos sete dias - com tantos amores não passando da primeira semana, já deve existir algum especialista na área.

Mas eu segui em frente, por mim e por nós dois. Comecei a fingir que você estava ali ainda, cozinhando alguma coisa no seu fogão bacana enquanto cantarolava Al Green e eu passava os 109 canais no seu sofá, com a cara de tédio que nasceu comigo. Eu até falo contigo, como se você fosse minha samambaia. Parece triste, mas ficou mais fácil e confortável assim. Ficou perfeito, na verdade. Porque você foi perfeito até onde soube responder meu chamado, e continuou perfeito nas minhas utopias.

Existem aqueles dias radiantes que a gente acha que sente que chegou a hora. Só que na maioria deles, a realidade tem preguiça de superar os sonhos mágicos desse meu coração, esse que também serve de depósito para restos de amores que me acertam de raspão. Olha, não sei qual dói mais. Quando acaba, quando sentimos que acabou, ou quando a gente precisa cair na real que acabou e já faz tempo.


Assinado Eu


Já faz um tempo
Que eu queria te escrever um som
Passado o passado,
Acho que eu mesma esqueci o tom
Mas sinto que
Eu te devo sempre alguma explicação.
Parece inaceitável a minha decisão.
Eu sei.
Da primeira vez,
Quem sugeriu,
Eu sei, eu sei, fui eu.

Da segunda
Quem fingiu que não estava ali,
Também fui eu.
Mas em toda a história,
É nossa obrigação saber seguir em frente,
Seja lá qual direção.
Eu sei.

Tanta afinidade assim, eu sei que só pode ser bom.
Mas se é contrário,
É ruim, pesado
E eu não acho bom.
Eu fico esperando o dia que você
Me aceite como amiga,
Ainda vou te convencer.

Eu sei.

E te peço,
Me perdoa,
Me desculpa que eu não fui sua namorada,
Pois fiquei atordoada,
Faltou o ar,
Faltou o ar.

Me despeço dessa história
E concluo: a gente segue a direção
Que o nosso próprio coração mandar,
E foi pra lá, e foi pra lá.

E te peço,
Me perdoa,
Me desculpa que eu não fui sua namorada,
Pois fiquei atordoada de amor
Faltou o ar,
Faltou o ar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Da janela do ônibus

Não sei bem se tem a ver com o meu lado "autora" mas tenho fascínio por desconhecidos. Quando viajo de ônibus, por exemplo, gosto de ficar imaginando a vida das pessoas que passam em segundos por mim. Arrumo briga mas fico sempre na janela, observando de longe o comportamento de cada uma delas. Ruas de pedras amareladas e cidades com pequenas praças vazias. Senhoras na janela vendo a vida passar. Crianças na calçada sorrindo e gritando. Homens bebendo em um bar e atentos a TV, é gol?

É tudo tão igual, e ao mesmo tempo, tão particular. Cada expressão. Cada esquina. Sinto que por instantes, poderia decifrar olhares e criar novos destinos. Será que tudo isso é efeito do Dramin?

Certa vez vi uma menina sentada na escada de uma casa azul simples que ficava em uma pequena cidade, provavelmente ainda menor que a minha e de nome desconhecido. Seu olhar parecia distante. Quando a vi, senti na hora um aperto no peito. Como se algo nela doesse dentro de mim. Percebi em seu olhar que ia em direção ao ônibus, uma vontade de não estar naquele lugar. Prisão sem grande, estradas.

Talvez ela quisesse subir naquele ônibus e seguir caminho junto comigo em busca dos seus sonhos. Ou sei lá, que uma pessoa especial sentada na poltrona ao lado pedisse pro motorista parar a qualquer custo, e descesse só pra dizer três palavras bestas que mudariam tudo. Enquanto imaginava tudo isso, senti pena. Pobre garota.

Algumas quilômetros depois, vendo as enormes montanhas típicas da região onde moro, e me sentindo como sempre um pequeno grão de areia no mundo, já bem longe daquela pequena cidade, percebi o quanto estava errada ao sentir pena e imaginar tantas coisas da menina. O planeta é tão grande, as pessoas podem querer tanta coisa para suas próprias vidas. É egoísmo demais imaginar que todo mundo sente e pensa da mesma maneira que eu. Talvez eu faça isso na vida real, no universo além de desconhecidos em viagens de ônibus.

Acho que as vezes é difícil entender que cada pessoa tem um propósito de vida diferente. Por mais que a gente imagine, suponha e torça, não podemos decifrar o que o outro realmente quer. Muito menos, ditar. É isso que dói, mas é essa a graça. Acredito que se soubéssemos tudo que se passa no coração de quem a gente ama, deixaríamos de amá-lo no mesmo instante. A graça é ir descobrindo pouco a pouco, da janela do ônibus, abraçados na cama ou estudando pra prova impossível de matemática. Aceitar as diferenças. Amá-las.

Então, Por favor, senhorita expectativa não espere que as pessoas sejam como nos filmes ou novelas. A vida real não tem roteiro. Não somos divididos por mocinhos, vilões e figurantes. Existem vários personagens dentro de nós. A gente é que ao acordar, escolhe qual vai ser.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Qualquer idiota diz eu te amo

Não se trata de incapacidade de sentir a coisa, sou um ser humano plenamente funcional. Mas, sabe aquela do Stevie Wonder, "I Just Called To Say I Love You"? Pois é, não está na minha lista.

Bem, só que eu estava saindo tempo suficiente com esta garota, já não podia me considerar um simples turista em seu sofá-cama, naquelas noites de sexta-feira e sábado e domingo e segunda-feira. Uma tarde, assistindo "(500) Dias Com Ela", ela resolveu chorar no meio do filme, não lembro em qual dos quinhentos dias e isso também não interessa. O que importa foi ver ela chorando e tentando esconder o rosto com a franja, e como ela segurava os dedões dos pés, os dois simultaneamente, sentada no sofá-cama feito índio ou como uma pequena menina de 14. Eu quis abraçá-la. Eu adorei aquilo. Eu... (longo suspiro) sei lá, cara.

Oito meses, um ano, mais três meses e eu não disse a coisa, embora tivesse vontade de dizer o tempo todo. Umas noventa vezes fiquei a ponto de formalizar o sentimento e aí parei, então ela acabava perguntando "O quê?" e eu "Nada" e ela "Anda, fala logo" e eu "Vai parecer besteira" e a cena terminava por aí mesmo. Em minha defesa, em defesa de todos os espécimes do meu tipo, há outras mil maneiras de fazer isto, não? Levar avós em torneios de biriba, submeter-se a testes de HIV antes de abolir a camisinha, descer até a farmácia e pedir ao senhorzinho de jaleco branco aquele com abas e substâncias antiodores para fluxos intensos, buscar avós em torneios de biriba. Você entendeu.

Aí ela ficou de me ligar e acabou sumindo. De começo achei que foi pela minha mania de fazer xixi assobiando alguma coisa dos Monkees. Mas com o tempo percebi, me dei conta, caí em mim, que a razão daquela ausência insustentável era a economia com meus "eu te amo" e como aquilo poderia ser interpretado. Falta de comprometimento. Não-amor. Que aquele um ano não tinha significado algum. Que ela não era amável. Era tudo um desperdício de vida. Não sei. Vai saber. Garotas são loucas, se fossem vendidas em frascos, viria rotulado: contém 1 drama. Acontece que eu não sei. Não sei se amo ou não.

Liguei para, você sabe, sondar como estavam as coisas. Deixei escapulir que queria vê-la. Precisava, na verdade. E ela "Por quê? Por que você me quer tanto de volta?" - Eu sabia, claro. Mas ela queria saber também, ouvir, anotar num papel de pão, deglutir, rabiscar a frase no espelho com batom magenta, gritar pra todo mundo ouvir, sair cantando Stevie Wonder. Garotas não desaparecem sem um truque na manga, anota isso aí. Então eu disse "não sei", ela quis desligar, eu quis conversar, até que ela venceu com "não vamos discutir a relação sem efetivamente estarmos em uma". Faz sentido.

É tão difícil assim?

ELA: Por que você me quer tanto de volta?
EU: Eu não sei. Quer dizer, eu sei. Eu acho que sei. Bem, parece, tudo indica, acho que decidi que, puta merda, eu amo você.

ELA: Por que você me quer tanto de volta?
EU: Porque estou te ligando movido pela vontade de reaver você e aquilo que tínhamos até semana passada. Eu penso em você dia e noite e fico ridiculamente abalado se a gente acaba brigando. Eu acho que te amo, garota.

ELA: Por que você me quer tanto de volta?
EU: Porque amo você, eu acho. Não sei ao certo. Sei que jamais terei certeza se você continuar com essa bobagem estúpida de ficar longe de mim.

ELA: Por que você me quer tanto de volta?
EU: Eu te amo, sua morena invocadinha.

Fácil. Até demais. Qualquer idiota consegue, talvez seja menos complicado cuspir isso sem realmente sentir. Os mentirosos são os mais fortes, têm mais estômago pra esse tipo de composição gramatica e sentimental. Eu não, hesito, sinto medo e quando estou a ponto de bala de dizer a coisa, meu queixo treme e chego a passar mal. Mas amo, é o que importa. Amo demais. Sem discursos, sem frase de efeito, sem irresponsabilidades. Eu sei porque se não fosse tão forte eu não ficaria sem palavras.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Me descreveu...Charles!


Corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso com os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espirito impaciente para romper o molde, incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balancavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos que jamais poderiam compreendê-la. E passava a vida a dancar, a namorar e a beijar. Mas, salvo a raras exceções, na hora H sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelevel na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.


Eu só preciso...

A nossa história começou acabando e acabou quando estava começando.
Lembro de quando você era apenas alguém intocável para mim,de como te amava,de como sonhava em um dia te dizer todas as coisas lindas que havia te dito,havia te dito somente na minha cabeça,imaginando um encontro irreal.
Mas quando essa hora chegou,me calei,sucumbi ao pensamento de que não era bom o suficiente para você.
Eu só precisava te encontrar,em qualquer lugar que não fosse a minha mente solitária,apenas para sentir teu cheiro,apenas pra sentir a pele macia do teu rosto,enquanto o acaricio vendo teu sorriso brilhar mais uma vez para mim,só para mim.
Eu realmente preciso sentir tua presença junto da minha,formando aquele par,que costumava estar junto,mesmo separado.Eu quero olhar de novo dentro dos seus olhos e te dizer que você não morreu,não para mim.
Eu preciso tocar teu coração,te dizendo todas as palavras lindas,que um dia imaginei te dizer ao pé do ouvido,te fazendo me amar mais ainda.
Eu só preciso te dar um abraço apertado,um beijo melado,te dizer obrigado e deixar que você siga teu caminho...

Sozinha, sozinha... até virar pedra, a dor e a gente.



Às vezes a gente grita socorro, cai pelos corredores, faz apelos e ninguém ver; e se ver, ignora. Ai a gente se cala e segura a dor sozinha, sozinha. Passa o tempo, a gente endurece, e aquilo que afligia, já não atinge mais. O coração vira pedra. A emoção se cala. A razão prevalece. E aqueles os quais pedíamos socorro...
Esses, os arquivamos, junto com aquelas dores que resolvemos empedrar. Viraram pedras também, de insensíveis que foram com nossa dor, insensível nos tornaram.


A SORTE DE UM AMOR TRANQUILO

Permita-se sofrer por algo ou alguém somente até determinado momento de sua vida. Isso faz parte de um processo de cicatrização no qual é necessário ver a ferida fechar para aprender com isso e saber onde pisar num próximo caminho..

Pode parecer frieza ou recalque frente a alguém, mas praticar o desapego é algo necessário, pelo simples fato de que ninguém é esnobado por muito tempo sem criar uma defesa ou até mesmo uma cicatriz. Cedo ou tarde a conta chega.

Parece que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Tudo que parece muito fácil e a seu alcance perde valor, pois dá a sensação de segurança, de controle. Infelizmente o ser humano é assim. Dá valor a algo somente quando perde a posse ou o controle sobre a situação. Esse é o motivo da vida, querer sempre mais, conquistar o que ainda não conquistamos. Isso vale para o amor e para a guerra.

Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor, “no pain, no gain”. De tanto ouvir essa conversa em qualquer lugar levamos o pressuposto de que isso também vale para a vida afetiva. Tem gente que insiste em procurar alguém para sanar a carência e acaba sempre fazendo a escolha errada por não ter paciência ou amor próprio pra encarar o momento certo.

Seja otimista com o passar do tempo de que as coisas podem melhorar, mas realista a ponto de não esperar que algo aconteça como num livro de romance marcado.

Não force a barra, pois toda vez que insistir em alguém que não está interessado na mesma intensidade e sintonia que você, garanto que vai dar errado! Escalar o muro da indiferença é inútil. Dar soco na água, murro em ponta de faca ou qualquer outra atitude estúpida não vai adiantar de forma alguma, pois a burrice é aceita somente num primeiro estágio quando se gosta de alguém. Você toma atitudes das quais sabe que está errado, mas prefere sentir o gosto do veneno do que comer algo sem tempero. Apenas aceite o fato de que passou e pelo menos você arriscou.

Amar não é um campo de batalha, mas pode sim usar-se da mesma estratégia de uma guerra: traçar um limite para o quanto vale a pena o esforço por algo ou alguém. Quem não tem limites sofre além da conta, perde suas forças e faz papel de bobo no final. Saber retirar seu batalhão da guerra no momento oportuno não é sinônimo de covardia, mas sim de auto-preservação para uma próxima batalha.

O ensinamento do Livro dos Manuais determina que os feridos por amor, ao contrário dos feridos em conflitos armados, não são vítimas nem algozes. Escolheram algo que faz parte da vida, e assim devem encarar a agonia e o êxtase de sua escolha. E os que jamais foram feridos por amor, não poderão nunca dizer: “Vivi”. Porque não viveram.

Sigo aquela famosa: "Quando se tem vontade.. Dá-se um jeito". Basta querer!

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. A pessoa simplesmente gosta de você. O que pode ser melhor do que ser adorado por aquilo que se é, sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada. Apenas de uma frase de Eneas: "Não tiro ninguém da minha vida. Apenas reorganizo as posições e inverto as prioridades..."

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sozinho não dá


Morro de inveja de gente capaz de viver avulsa. Não por alguns dias ou por um algumas semanas, mas viver, simplesmente, pelo tempo que for necessário.

Para essas pessoas – eu imagino - os namoros começam, acabam e, nos intervalos, elas são felizes de outra maneira. Ou pelo menos tranquilas. Usam o espaço entre romances para conjugar verbos alternativos: ficam, transam, flertam, ciscam, inventam, aprontam, erram. Ou apenas desfrutam delas mesmas e dos seus amigos. Parecem sossegadas, embora convivam com a solidão e com a ansiedade de arrumar parceiros - para a noite, para o fim de semana, para o réveillon que se aproxima. Diante da sugestão de que deveriam ter um namorado ou namorada, desdenham: “Está tudo bem assim”.

Como eu disse, tenho inveja, ainda que os céticos possam duvidar da felicidade de quem não tem parceiro fixo. “Quem coleciona casos está sempre sozinho”, dizem. “Parecem felizes, mas não são.” De onde vem tanta convicção? Pois eu suspeito que haja uma multidão de pessoas capazes de sobreviver por longos períodos numa dieta emocional que seja rica em sexo e novidades, ainda que tenha pouco afeto. É uma questão de temperamento, idade e formação. Talvez até de sexo. Muita gente parece gostar de confusão e variedade tanto quanto gosta de romance – ou ainda mais. E o número delas cresce.

Não é o meu caso, porém.

Como milhões de homens e mulheres, fico aflito na falta de uma relação de referência. Não consigo relaxar e improvisar. A ideia de sair à toa e arrumar alguém é mais assustadora que excitante. Ficar em casa tampouco é opção. Pode ser tolerável por uns dias, mas rapidamente se converte num inferno. Solidão apavora, como diz aquele samba lindo do Caetano. Há os amigos, graças a deus, mas eles não suprem carências essenciais. Pegar na mão, beijar na boca, dormir de conchinha e fazer planos (além de sexo relaxado, sem aquela sensação boa/ruim de primeira vez) é coisa que se faz com parceiro habitual ou fixo - que a gente, quando não tem problema com as palavras, costuma chamar de namorada.

Saber do que eu gosto e do que eu preciso não quer dizer que eu ache isso bacana 100% do tempo. Se pudesse escolher, provavelmente pegaria para mim mesmo outro temperamento. Em vez de namorador compulsivo seria, por exemplo, Desapegado 2.0. Sabe aquele cara que fica na dele por um tempão, testando sem pressa, até cansar, enjoar ou pintar a pessoa certa? Ou a garota que adora ficar sozinha na casa dela e sair com as amigas, mas não tem dificuldade em arrumar parceiros quando deseja? Então: tenho a impressão de que esse pessoal se diverte mais, embora eu não tenha muita base para comentar. A grande maioria dos meus amigos se parece comigo.

Eles ou elas se separam, declaram de boca cheia que vão ficar livres e solteiros por um bom tempo, mas, dias ou semanas depois, já estão lá de novo, publicamente enredados – com as mais variadas (e, admitamos...) singelas explicações. “Achei a mulher da minha vida”, é comum. “Nunca estive tão apaixonada”, também é frequente. Quem consegue discutir com um argumento desses? Eu não, mas fico sempre com a impressão de que tem aí uma espécie de dependência. Assim como há gente viciada em sexo, há outros viciados em amor, ou em situações assemelhadas. Essas pessoas precisam sentir-se apaixonadas para conseguir suportar o dia-a-dia. Acabam forçando a barra. Quem se apaixona assim, de uma hora para outra, e repetidamente? Sei não...

Entre os namoradores compulsivos e esses viciados em amor existe uma sensação comum: a de que sozinho ou sozinha simplesmente não dá, por inúmeras razões. Os fins de semana são muito longos, há feriados demais no Brasil, as contas dos bares e restaurantes estão absurdamente caras, viajar sozinho é melancólico, dar presente é uma delícia, receber é ainda melhor, dormir a dois no inverno é essencial... Enfim, há inúmeras razões práticas para explicar o apego das pessoas ao acasalamento, mas nenhuma é tão forte quando a sensação, intraduzível, de que a vida sozinho (ou sozinha) não faz sentido. Quem tem essa sensação acaba sendo atraído para o outro, embora até gostasse, em teoria, de tentar viver de outro jeito.

Dito isso, eu confesso que tenho alguma inveja dos aventureiros.

Eles são empreendedores do afeto: começam o dia sem nada assegurado, trabalhando e apostando que vai dar certo. Às vezes ganham, muitas vezes voltam para casa lambendo as próprias feridas. Há poesia nisso, embora possa estar soterrada por uma camada de babaquice. Um aventureiro de verdade não é um colecionador que precisa exibir conquistas ou um carente que não conseguir ficar sozinho. Ele (ou ela) gosta de seduzir e gosta de liberdade. Gosta de sexo e variedade. Encontra na diversidade o que a maioria de nós acha apenas na singularidade de um indivíduo. Mas quem é assim, ou quer viver assim, deveria saber que há um preço a pagar. No fim da noite, se nada der certo, não pode virar um chato, mendigando afeto e companhia a quem estiver do lado. É preciso ter dignidade nessa hora. É preciso ter lido Charles Bukowski.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras.)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Salve ela!


ÔUÔ lá vem ela
ÊÊÊ salve ela
Quando esse seu jeito maneiro
me envolve eu fico no ar
eu viajo no espaço procuro
o seu corpo que eu quero tocar
que mistério é esse que força maluca
que machuca, maltrata, funde a minha cuca
ÔUÔ lá vem ela
ÊÊÊ salve ela
Quem me dera ser seu rei
e não ser somente seu namorado

sou apenas um sonhador
Louco de amor quero um beijo
que cure essa dor
estou carente (-confesso!), e apaixonado!


"Neguinho poeta"


"Neguinho era um poeta sonhador
Sonhava como alguém jamais sonhou
E no anonimato ele vivia
Cultivando a flor da ilusão
E assim como todo bom sonhador
Havia uma musa em sua vida
A quem ele sempre presenteou
Com frases que jamais foram ouvidas (...)

Pelo mundo todo prosa
Navegou num mar de rosas
Abusou da perfeição
Tornou o feio bonito
Transformou o mundo aflito
Em amor, em união."


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Nada a perder


Não me venha com "temos de conversar, aconteceu uma coisa". Uma coisa não simplesmente acontece. Você precisa apertar um botão pra isso tudo "simplesmente acontecer". Duas pessoas não resolvem dar uma escapulida sem antes um bom flerte, alguma negociação e um punhado de telefonemas.

Todos passam por isso, todos vivem aquele fragmento lúcido de tempo em que é necessário decidir entre resistir ou fazer a coisa - esta é diferença entre nós. Duas pessoas resolveram acontecer. Você está entre elas e é isso que dói um pouco. Outro erro grostesco na construção das suas desculpas esfarrapadas: não há mais o que conversar. Vamos evitar olhares de lamentações, desprezos e resignações.

O que você quer? Absolvição? Aplausos? Ver nos meus olhos uma ponta de dor? Correção? Desculpa entrar na brincadeira sem julgar seu acontecimento como uma mera molecagem credora de castigo. Nunca fui sua mãe e você já não é mais criança, posso afirmar, apesar da sua ingenuidade em pensar que assim a coisa soaria mais honesta. A pior ingenuidade é achar-se esperto.

Não importam os pontos já somados ou o quanto você foi legal, seremos julgados eternamente por um único e isolado e grande erro. Sinto muito, é assim que funciona. Não existe justiça nisso que chamamos de "vida". Às vezes somos resumidos por aquilo que só fizemos uma vez, se acaso aquilo que só fizemos uma vez modificar alguém para sempre.

Aliás, foi melhor? Foi bom? Me diga. Me conte. Roteirize a cena pra mim. Vamos lá, eu quero saber. Entrei no seu jogo e estou dando uma oportunidade pra você se gabar. Não desperdice. Pegue. Foi bom? Foi melhor? Espero no mínimo um sim, que tenha valido a pena, porque você pôs a perder algumas coisas que até ontem pareciam importantes. Defenda-se.

Sabe, sobre esse seu "amor" que você está dizendo. Eu posso ouvir você dizer milhares de vezes, mas não significa que uma junção de palavras vai me fazer sentir como era antes, tudo outra vez. Seria até bom se você ficasse quieto e deixasse a reputação do amor intacta. No futuro ouvirei de alguém que esse alguém me ama e quero ter um conceito melhor sobre isso.

Vamos fazer assim. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores. Seria exagero dizer que você faz o mundo melhor. Você não é pra tanto, mal dá pro gasto. Mas que fica tolerável, não posso negar. É que... já não estamos nos falando direito mesmo, então acho que preciso aproveitar que nós dois não somos uma aposta segura a longo prazo e que também não sou assim, tão louca por você.

Nada parece fazer diferença agora e tudo indica ser uma boa hora pra largar mão disso de qualquer forma. Não é como se estivéssemos perdendo algo. Eu vou dar uma volta, refrescar as ideias. Quando eu voltar, não quero mais vê-lo aqui. Se ainda estiver, então isso significa que sou eu quem devo sair.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

É pra viver



Amor é pra se viver
E não importa o tempo que vai durar
Viva o amor fio a fio
Eu te aconselho amar
Pra não olhar sobre o mar
E ficar a ver navios
Porque o amor é uma pérola
E pérolas não dão sobre o mar
Se ta afim de um amor verdadeiro
Vai ter que mergulhar pra buscar.


Pois é...



"Queria que você me prendesse nos braços, e não na mente."

Marcella Rios




;)



"Sempre fui bem resolvida. Sempre fui independente dentro de mim. Quase nunca fico calada. Não sigo moda alheia, não corro atrás de ser igual a ninguém. Sou eu, sou assim. Gosto do simples e do inaceitável, sou do contra, sou da lua, sou da luz. Não me faço por entender. Não suporto igualdades!"



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ousadia



Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?

(...)

Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!

(...)

Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.

Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.


(Elisa Lucinda)

O segundo


Porque às vezes a gente não reconhece de primeira. E desconfia. E testa, e afasta, e manda mesmo é pra puta que pariu. Porque quer ser convencida que dessa vez é diferente, e não vai sofrer, e ... e.

É muito difícil se vulnerabilizar depois que a gente sofre tanto. E tentar entregar o coração mesmo sem saber que o acontece... depois. É difícil ter fé d
epois da tempestade. É mais fácil ser egoísta, ou sonhar com o amor impossível, aquele que nunca reconheceu que...
Porque quando você me abraça e aceita que eu sou humana, e confusa, e me perco, e... ainda assim você me convida pra fazer parte da sua vida, você... (me cala.) (Você me incandesce.)

Eu não sei como lidar com isso. Eu não sei como lidar com toda essa ternura que você me mostra, assim, tão explícita. Eu provavelmente vou fugir. Eu vou te expulsar. Vou mandar você embora... e você vai fingir que não me lê e... dizer que não desiste tão fácil de mim?

Eu provavelmente não sou a mulher pra você. Mas eu quero tanto que você me convença. E quero tanto que você não se machuque no caminho, porque você não merece... Mas eu quero tanto que você me convença. E me ganhe. E me roube... de qualquer esconderijo... de mim.

S


"Às vezes parece que a gente fez tudo o que podia pra dar certo, e não deu... ou porque era só o seu momento, ou porque só era o momento do outro, ou porque se exigiu demais além do que se tinha, ou porque se exigiu de menos... não dá pra saber... não existe receita... o que eu sei, e o que eu aprendi ao longo desses anos todos é que o que você sente é seu, não é de mais ninguém... vem de você, e é em você mesmo que fica, encontrando o seu destino ou não.... "



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Depressão pós-coito

Aconteceu assim: um amigo em comum teve a brilhante ideia de que, quem sabe, esse garoto e eu fôssemos almas gêmeas ou dois estudos de caso (se alguém por ventura estiver disposto a pesquisar como as pessoas da cidade desembocam na loucura e na solidão). Sei que eu estava infeliz pra cacete, precisando de alguém pra mim.

Tudo bem, com manuais de autoajuda debaixo do braço, você diria que o importante é estar bem consigo. Lindo. Respostas fáceis para problemas pessoais complicados. Pode ser que não ter um namorado em plena guerra civil, em algum país do terceiro mundo onde não há mais água potável, não seja um problema sério. Mas aqui no Rio de Janeiro, é sim, porra.

Ao foco. O garoto esse abriu um espaço pra eu sentar na mesa do bar e interpretei o gesto como um movimento romântico minimalista acenando que o coito é uma hipótese possível. Ótimo. Depois, friccionando aquela aquela perna nas minhas coxas, e debatendo os filmes do Lars Von Trier, foi que percebi que o sexo era, na verdade, uma hipótese provável. Questão de horas. Menos de três.

Ele insinuou a vontade dormir na minha casa ("você também vai pra esse lado, que legal, podemos dividir um táxi!") e eu meio que dei a entender que era uma débil mental porque só fui compreender o lance na hora de saltar do carro. Subimos até meu apartamento, vejam só que coisa adulta. Sou grande agora. Somos desencanados, não precisamos nos ligar amanhã, não quero machucá-lo, ele diz que não se machuca fácil, eu quem devia ter cuidado, então tudo bem, vamos fazer o troço.

Resolvo lavar meus dentes e quando volto ele veste: 1. uma cueca. Bem, ele acabou protagonizando uma visão desacorçoante. Perturbadora, até. Fazemos o sexo.

Foi gostoso. Dormimos até tarde e acordamos com cheiros não tão bons quanto ontem. Nada de hidratante de nozes ou algumas das últimas gotas do meu já fora de catálogo Insensatez. Tomamos café juntos, só que meio distantes e escabelados e deslocados, cheios de sorrisos polidos, papos gentis e sem muita convicção de que, no nosso caso, uma reprise seria algo aconselhável por algum desses terapeutas que atendem casais que se conhecem numa noite e acabam precipitadamente na cama.

O que aconteceu depois? Nada. Por quê? Não sei, na verdade. Sabe como são esses contatos físicos. A coisa começa de um jeito, meio sem nome, como apenas uma brincadeira, e no fim acaba ficando meio sério porque esse tipo de coisa adulta não deveria ser praticada por duas crianças no quesito "romance". Não nos apaixonamos, foi isso. Nos demos fantasticamente bem na parte física e mesmo assim decepcionamos nossas almas.

"Eu ligo pra você na semana", ambos sabíamos, era apenas o slogan eufemista de uma campanha publicitária anunciando que teríamos mais um domingo dedicado a nós mesmos, nossa solidão, nossa melancolia, nossos filmes do Lars Von Trier, nossas gargantas que doem, nossos narizes entupidos, nossa vontade de não ir trabalhar e não falar com ninguém. Aí nos despedimos com um beijo seco, constrangedor e sem muito tesão de dizer mais coisas um ao outro.

Ninguém sofreu, é a boa notícia, eu acho. Mas o pior, o pior de tudo: nenhum de nós poderia levar a culpa. A gente criou coragem, a gente bem que tentou, abandonamos a preguiça sentimental da zona inerte de conforto e não funcionou. Sobrou aquela sensação de que sou um balão flutuante, livre e desesperado no céu, que nasceu pra estar preso pelo barbante numa mão afetuosa, juvenil e apaixonada, e não pra perambular solto e murcho por aí.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Independência ou o que?

Dia da Independência...

Hoje parei para refletir e minha reflexão me levou a um pensamento muito interessante: alguém já reparou no paradoxo que nós, mulheres modernas, vivemos hoje? A gente trabalha, estuda, malha, cuida da casa, conquista a cada dia mais espaço na política... e ainda assim às vezes se pega dependendo do elogio do marido, namorado, etc para sentir-se bonita e especial, da companhia das amigas para uma simples ida ao banheiro, dos conselhos de alguém para tomar uma decisão importante e por aí vai. Quem é essa mulher tão independente da porta de casa para fora e tão dependente em seu íntimo?


Parece que a gente precisa ser perfeita em tudo: profissional competente, antenada com o mundo, dona do corpinho mais sarado da balada, destemida, desinibida, perfeita em todos os sentidos e nota 10 em todos os quesitos. O pior é que a cobrança mais pesada acaba vindo de nós mesmas, que queremos nos encaixar em um protótipo de perfeição que não nos cabe, tentando entrar em uma carapuça que não nos serve.


Por isso, aproveito o feriado para assumir um compromisso comigo mesma: tentar depender menos da opinião alheia, da companhia alheia, do ideal alheio. Este é um grito de independência, mas não é nacionalismo. É amor-próprio. Liberdade ainda que tardia dos estereótipos que nos limitam. De hoje e diante esta será minha bandeira e o meu hino. Minha ordem e espero que seja a fonte de muito progresso ainda. Ser independente vai muito além de pagar suas próprias contas, é ter o controle da sua vida nas mãos - e com isso deixar o mundo a seus pés.

sábado, 10 de setembro de 2011

Eu amo o mistério

"..Eu me faria uma visita naquele apartamentinho pequeno e cheio de tentativas de charme e maturidade. E diria pra mim o que ninguém, sabe-se lá porquê, foi capaz de me dizer numa época tão necessária e quase triste. Época de tentar de tudo pra chegar perto do que, um dia, simplesmente acontece mesmo a gente achando que só funciona para os disciplinados na cultura da imbecilidade. Esse povo estranho que divide armário e sorriso de foto.
Eu diria: menina, amar a dúvida, o silêncio, a ingratidão, o fim, o atraso, a invenção, a lacuna, o pode ser, as hipóteses, a não resposta, a raiva, o absurdo, o não, a impossibilidade, o depois que foi, o antes de chegar, o difícil, o pode não, amar essas coisas, menina, é amar o mistério e não um homem.."

- Eu Marcella, amo o mistério. E não um homem!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Do que eu preciso... [ foto das antigas ]



Estou cansado de ter o que quero! Agora quero conseguir as coisas que realmente preciso.
E com certeza é você o primeiro item dessa lista.
Cada dia que passa, vou me rendendo aos teus encantos,já me decidi, estou entrando num caminho sem volta,um caminho para conseguir aquilo que mais preciso.
E o que mais preciso em você?
É da animação que sinto quando falo contigo, mesmos nos meus dias mais sombrios, é a segurança que sinto com você, o conforto de como eu estivesse num castelo, e o calor que tu me passa, calor capaz de esquentar até os sentimentos congelados! E onde encontro tudo isso? Somente em você!
A vida é realmente engraçada, eu te procurando por tanto tempo e só agora fui te encontrar, mas é o que falam, quem procura sempre acha, e eu achei minha metade em você.
Você tem o dom de dizer as palavras certas para me despreocupar, me proteger.
Não é a toa que o que eu mais preciso hoje, seja você!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O mundo é tão pequeno


Pode brincar,
Eu te conheço, sei jogar seu jogo
Sei que você vai se queimar
Sei que não agüenta fogo e vai quebrar a cara
Quando me ver escapando entre seus dedos
Ou dividindo os meus segredos com outra pessoa
Hoje eu acordei gostando mais de mim
Vou cair fora numa boa
Então fica assim
A gente se encontra outra ocasião
Na festa junina, festa de peão
No bar da esquina
O mundo é tão pequeno afinal
E graças a Deus que o seu amor não me fez tão mal
E o meu coração ainda bate igual
E a gente se encontra em outro Carnaval,
O mundo é tão pequeno afinal
O mundo é tão pequeno afinal

domingo, 4 de setembro de 2011

Melancolia e lembrança: O seu sorriso

Estranho é pensar que mais uma vez estou aqui, na melancolia. Na saudade. Claro, não com a mesma intensidade e valor que antes, mas tendo. Não num sentimento tão aflorado, mas sentindo. A falta que tudo que gostamos nos faz, quando se vai é destruidor. Mexe com cada parte da gente, nos nossos sentidos e emoções. E que essa pessoa seja uma qualquer, mas ela faz falta e aí? Ela foi, não sei se volta, se liga, se me retorna. Só sei que ela foi. Pediu as contas, sem ao menos ter trabalhado direito, nem um mês direito se tinha. Complicado. Quem vai não sente mais do que quem fica. Eu Marcella, sempre vou concordar com isso. De vez em quando me vêm seu sorriso, de molequinho... menino largado. Nem aí pra nada, falando que tudo é passado, muitas vezes me pedindo desculpas sem ter feito nada. Mal sabia que já estava completamente errado de ter entrado na minha vida, invadindo meu coração assim tão rápido. Te via, te ligava, ria com você, trocava minhas noites de sono por você no telefone. E pra mim era a opção mais sensata. Apesar das olheiras nos olhos, eu estava com a melhor das aparências de corpo e alma. Era olheiras nos olhos e você no coração, na mente... Pra mim tava ótimo! Vivi dias, semanas felizes... Curtos como sempre, porém felizes. As vezes me pergunto se todos serão assim, maravilhosos, porém breves, curtos, rápidos (em todos os sentidos). Qualquer dia eu enlouqueço.

Eu seu abraço, o seu apresso, sua segurança, seu carinho, seu zelo. O seu sorriso é algo assim arrebatador, tudo podia estar triste, o lugar podia ser feio, o clima podia estar uma merda, a gente podia estar brigado, a conversa monótona... Mas o teu sorriso...Era só você sorrir pra tudo mudar, ou só existir o teu sorriso, que ofuscava pra mim o resto do mundo, os problemas, as brigas, todas aquelas coisas ruins. O teu sorriso, me traz paz, alegria. É sorriso de criança. Eu sei que você de criança não tem nada. Quer dizer ainda tem... O sorriso, e só.

Hoje eu tô lembrando das coisas boas que você deixou nas minhas lembranças, hoje eu tô lembrando com meu lado doce, esperançoso, como se eu nunca tivesse sentido nem um pouquinho de raiva, como se tudo tivesse acabado com amor, ainda. Como se NÓS tivéssemos decidido isso juntos, como uma opção boa pra ambos. (Nada foi assim). Mas hoje eu vou lembrar de você assim. E espero que pelo menos só por hoje você não me decepcione.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Alfândega


Fazer as malas se tornou um hábito diário. A rotina de dizer adeus, o ensaio de deixar tudo para trás. Quantas vezes vou me despedir e compatilhar meus planos? Quantas vezes até chegar o dia de verdade?

Não consigo pertencer ou me adaptar. Falha minha. Meu único planejamento é não planejar. Porque o momento em que eu sei exatamente o que fazer ou onde ir é o mesmo momento em que tento, desesperadamante, fazer o oposto. Talvez eu apenas goste de contrariar e negar o que dizem ser certo. Talvez seja coisa de menina mimada que não aceita ordens e rótulos.

Eu tenho casa, mas não tenho lar. Não me permito ficar muito tempo por onde passo, estou sempre de passagem. Minha distância, que você percebe e julga ser frieza, é apenas um mecanismo de defesa contra o que virá depois. Já me acostumei à desilusão e sua argumentação em favor do mundo não vai ajudar. Estou desiludida de mim, dos meus impulsos, das minhas incapacidades, da minha falta de sentidos, não das outras pessoas. As outras pessoas cumprem direitinho com seu papel, se esforçando pra quebrar meu gelo, algumas gostando sinceramente de mim, apesar da falta de resposta. Sou cigana, sou estrangeira, sou de partida, nunca de chegada. Sou de começo e fim, não de durante.

Eu aceito que pessoas sejam apenas passageiras na minha vida, desde que elas não insistam em ser mais do que isso. Não posso ter o trabalho de me apegar e me despedir, porque também não sou mais do que mera alma a caminho de qualquer outro lugar. Não posso ser bagagem de ninguém. Estar presa na alfândega é um estado de espírito, não um capricho feminino.