sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Depressão pós-coito

Aconteceu assim: um amigo em comum teve a brilhante ideia de que, quem sabe, esse garoto e eu fôssemos almas gêmeas ou dois estudos de caso (se alguém por ventura estiver disposto a pesquisar como as pessoas da cidade desembocam na loucura e na solidão). Sei que eu estava infeliz pra cacete, precisando de alguém pra mim.

Tudo bem, com manuais de autoajuda debaixo do braço, você diria que o importante é estar bem consigo. Lindo. Respostas fáceis para problemas pessoais complicados. Pode ser que não ter um namorado em plena guerra civil, em algum país do terceiro mundo onde não há mais água potável, não seja um problema sério. Mas aqui no Rio de Janeiro, é sim, porra.

Ao foco. O garoto esse abriu um espaço pra eu sentar na mesa do bar e interpretei o gesto como um movimento romântico minimalista acenando que o coito é uma hipótese possível. Ótimo. Depois, friccionando aquela aquela perna nas minhas coxas, e debatendo os filmes do Lars Von Trier, foi que percebi que o sexo era, na verdade, uma hipótese provável. Questão de horas. Menos de três.

Ele insinuou a vontade dormir na minha casa ("você também vai pra esse lado, que legal, podemos dividir um táxi!") e eu meio que dei a entender que era uma débil mental porque só fui compreender o lance na hora de saltar do carro. Subimos até meu apartamento, vejam só que coisa adulta. Sou grande agora. Somos desencanados, não precisamos nos ligar amanhã, não quero machucá-lo, ele diz que não se machuca fácil, eu quem devia ter cuidado, então tudo bem, vamos fazer o troço.

Resolvo lavar meus dentes e quando volto ele veste: 1. uma cueca. Bem, ele acabou protagonizando uma visão desacorçoante. Perturbadora, até. Fazemos o sexo.

Foi gostoso. Dormimos até tarde e acordamos com cheiros não tão bons quanto ontem. Nada de hidratante de nozes ou algumas das últimas gotas do meu já fora de catálogo Insensatez. Tomamos café juntos, só que meio distantes e escabelados e deslocados, cheios de sorrisos polidos, papos gentis e sem muita convicção de que, no nosso caso, uma reprise seria algo aconselhável por algum desses terapeutas que atendem casais que se conhecem numa noite e acabam precipitadamente na cama.

O que aconteceu depois? Nada. Por quê? Não sei, na verdade. Sabe como são esses contatos físicos. A coisa começa de um jeito, meio sem nome, como apenas uma brincadeira, e no fim acaba ficando meio sério porque esse tipo de coisa adulta não deveria ser praticada por duas crianças no quesito "romance". Não nos apaixonamos, foi isso. Nos demos fantasticamente bem na parte física e mesmo assim decepcionamos nossas almas.

"Eu ligo pra você na semana", ambos sabíamos, era apenas o slogan eufemista de uma campanha publicitária anunciando que teríamos mais um domingo dedicado a nós mesmos, nossa solidão, nossa melancolia, nossos filmes do Lars Von Trier, nossas gargantas que doem, nossos narizes entupidos, nossa vontade de não ir trabalhar e não falar com ninguém. Aí nos despedimos com um beijo seco, constrangedor e sem muito tesão de dizer mais coisas um ao outro.

Ninguém sofreu, é a boa notícia, eu acho. Mas o pior, o pior de tudo: nenhum de nós poderia levar a culpa. A gente criou coragem, a gente bem que tentou, abandonamos a preguiça sentimental da zona inerte de conforto e não funcionou. Sobrou aquela sensação de que sou um balão flutuante, livre e desesperado no céu, que nasceu pra estar preso pelo barbante numa mão afetuosa, juvenil e apaixonada, e não pra perambular solto e murcho por aí.

Nenhum comentário:

Postar um comentário