. Eu, minha cabeça, meu coração & ele .

Meu coração não está acostumado com a fugacidade. Quando ele ama, ele ama quase para sempre, ainda que daquele jeito. Já minha cabeça, ah, essa adora se apaixonar todos os dias. Ela cria os romances mais lindos, os diálogos mais cheios de verdade, as brigas mais reais e reconciliações dignas de cinema. Ela casa com o primeiro desconhecido charmoso que passa na rua, tem filhos e fica velhinha ao lado dele. Imagina uma vida só de olhar. Mas não se emocionem. Ela faz isso quase todos os dias.
E o coração fica lá rindo da cara dela: Como é boba e iludida essa cabeça.
E ela ri da cara dele: Como é cabeça dura esse coração.
Seria engraçado se fosse com outra pessoa, mas é aqui dentro ó que tudo isso acontece.
-Esse coração é burro, você não acha?
-Acho.
-Essa cabeça é maluca, não é?
-Ô se é.
Tem dias que acho que a minha cabeça é que tá certa. Até apoio: Isso mesmo, vá em frente, viva, sonhe e faça muitos planos, por mais que eles não durem, toda essa história de amor é besteira e da um trabalho desgraçado, seja mais prática.
Em outros, coloco a praticidade de lado e corro em disparada dar razão para o meu coração como se o jeito turrão dele pudesse me proteger de toda essa superficialidade que existe por aí.
Sentamos juntos numa mesa de bar, pedimos uma bebida, fumamos um cigarro e imaginamos juntos que ele vai voltar. Vai sim e com aquele olhar esverdeado e sua camisa xadrez.
Concordamos que ninguém mais neste mundo vai ser tão especial.Ninguém.
-Ele vai voltar e dizer que te ama. Aposto.
-Será coração? Respondo bem iludida.
- Certeza que vai boba.
E a minha cabeça chega de repente para estragar a festa .
-Pensaram que iam me deixar em casa numa noite linda como essa?
Vocês dois não podem ficar sozinhos que já ficam pensando besteiras, dois iludidos românticos.
Olha aquele cara ali com os amigos, olha bem e veja que interessante que ele é e não tira os olhos de você. Deixa esse coração burro sozinho e vamos dar uma volta comigo?
- Quer saber? Vamos. Respondo bem animada.
E lá vou eu deixar mais uma vez meu coração para trás, para dar razão para minha cabeça.
E ele fica lá, sozinho, lembrando e sonhando enquanto a minha cabeça, essa não para um minuto.
Fico eu no meio, às vezes dando razão para um, às vezes para outro.
Um dia ele volta, ou aparece outro e assim nós quatro viveremos em paz. Eu, minha cabeça, meu coração e ele.