terça-feira, 24 de maio de 2011

Mundo Paralelo

Eu ainda sou nós dois. Caminho pela rua como se tivesse trocado de cidade, com ínfimas chances de te encontrar, mesmo com todos meus fios de esperança plugados em você a 220 volts. Apesar de ter ido pra muito longe, nada supera a distância onde vai minha imaginação a respeito de você e eu. Desvio de pessoas, fruteiras, cachorros de rua, do que restou de mim mesmo.

Ando por aí, com pensamentos disléxicos lá em ti. Na minha cabeça, é sempre tempestade de brisa porque lá sempre está você. Fui daqui a Istambul, voltei até o inverno passado, viajei pra lua, qualquer lugar onde o vento me levar, pois algo me diz que é pra lá. A pé, de avião, de barco ou ultraleve, sempre me arrastando pelo chão.

Forço os olhos pra sua feição não desaparecer na minha memória
, como já aconteceu com a única polaroide capaz de comprovar sua existência dentro do mesmo plano que fiz. Embora eu saiba que mais de metade sua foi inventada por mim. Eu sei que foi apenas um dia, talvez só um sonho de dois estranhos pela noite, mas que havia uma perspectiva de dar certo.

Lembrar você me traz o contorno e a pele de pêra que tinha seu rosto quando sorria. E febre também. A vida agora é uma incessante música do Radiohead no modo repeat. Não posso dizer que procuro a paz, porque mesmo contigo não tive um só minuto sem me assustar com os pelos do meu braço arrepiando, como querendo me arrancar os poros. Uma agitação só comparada ao demônio da Tasmânia.

Pequeno memorando de um diálogo disléxico em eterno retorno:

- Como eu faço pra telefonar e, quem sabe, te ver?

- Impossível. Nós vivemos em mundos paralelos, e no meu não há ligações.

E voltou pra casa, decerto um conto da Clarice Lispector.

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