segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Choque Térmico

É impressionante como não consigo respirar direito na sua frente. Te conhecer foi algo extraordinário, como de um dia pro outro ganhar asma. Minha mãe sempre dizia pra não andar de pés descalços e tudo que eu fiz foi piscar na hora errada. Minhas defesas caíram e agora você taí, respirando meu ar e comendo meus iogurtes, como uma infecção parasitária que me faz tão bem. E se antes eu já não visitava o médico, agora mesmo que não tenho vontade alguma de cura. Eu tenho o corpo pesado, preguiçoso e sonolento, coisa que não me deixa fugir de você.

Não sou dessa gente que precisa estar apaixonada e nem nunca tive essa curiosidade mórbida de viver uma infelicidade dessas, a perda do sono e de peso, a angústia antes de saber se a coisa vai mesmo acontecer, como se o mundo fosse uma grande sala de espera, cheia de romances ruins na mesa de centro e novelas duvidosas na tevê suspensa no ar. Antes de você chegar, eu tinha meus discos do Radiohead, meus dvds do Jerry Seinfeld e quase todos livros do Jack Kerouac, ou seja, eu tinha uma vaga noção de completude.

Mas é impossível ser feliz sozinha porque sempre tem um desavisado pra te encontrar no meio de um milhão de pessoas, jurando que essa felicidade doida é uma coisa boa. Pessoas do tipo "procuro-um-amor-verdadeiro-que-dure-para-sempre". E lá vem você dizer que sou uma pessoa triste e rançosa. Sei que pareço infeliz e mal-humorada, mas é só escudo. Minha felicidade é sempre pequena demais pra espalhar por aí. Não tenho culpa.

Ademais, como eu posso entrar cega num jogo que pra ganhar eu preciso me perder de mim? Amar é se doar, dar demais é ficar sem nada, por isso eu entrego você de bandeja. Desistir das pessoas é comigo mesmo. Sou só uma pessoa generosa que não tem necessidade de ocupar mais espaço no mundo, além do pouco que me cabe.

E eu sei que no fim, ou até muito antes do fim, você vai me fazer sofrer muito porque não consigo refletir no espelho algo que realmente faça você se interessar por mais que duas semanas bem vividas. Posso ouvir minha mãe dizer pra não sair no frio porque com o choque térmico posso ficar torta pra vida inteira. E eu sei que um dia você vai abrir a janela, olhar pra fora com fome e deixar um vento súbito gelar meu peito.

E aí, depois que essa febre sideral baixar e passar noites e noites esfregando na manga a coriza que ficou como sequela, compenetrado em espirrar você de mim, serei uma daquelas pessoas que jamais conseguirão beijar outras no sereno sem o auxílio de um spray de própolis. Esses mortos-vivos que dormem com a saudade enquanto você esfrega seu suor no corpo saudável de outra pessoa. Serei um alguém com o ar dos pulmões eternamente congestionado, incapaz de aspirar uma nova paixão bem debaixo do meu nariz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário