segunda-feira, 4 de abril de 2011

Não me vem com romance

O cigarro deixa um gosto incômodo na minha boca. Mas não vou negar, vale a tentativa, me deu prazer, foi bom pra mim. Sempre é. Mas depois o gosto incômodo. O sabor cinza que fica até o sol dissuadir a noite me fazendo lembrar deveres e horários. Eu trabalho cedo amanhã e acho recomendável você ir. Ofereço meu telefone pra chamar o táxi e não se faça de rogado. É assim agora. Não me ofendo mais disso não ser amor, mas também aqui não é hotel. É a regra da casa. Ninguém mais vai quebrá-la. Não vem com romance. Não se fica mais. E não adianta bufar.

Por mim tudo bem assim, por ora não anseio mais fundir almas, compartilhar risos e diálogos interessantes, coisas que posso obter a partir de meus bons livros, meus filmes, antigas fotografias coloridas de sorrisos, meus amigos esquisitos que vou encontrar logo mais adiante. Gosto do meu individualismo, só me encontro dentro dele, lá fora cansei das pessoas trocarem ideias, mentiras, vantagens, idiossincrasias. Não importa o quanto me fazem rir e sentir um pouco mais distante da morbidez. Vocês sempre terminam me magoando quando servem-se de metade, só um pedacinho de mim. O eterno gosto incômodo de cinza na boca.

Sim, e daí? Me veem mesmo como uma espécie de aberração natural. Sou apenas um iceberg no centro da metrópole, procurando o café mais aromático, onde é proibido fumar e não existem esses antagonismos entre coração e razão. Eu não procuro e duvido que vão me encontrar. Não vem com romance. Amor é vida, eu tive sete, e todas as vezes morri de forma brutal, então hoje caminho por aí buscando romper com meus passados, como um assassino de memórias em série. Em cima do muro não me sinto encurralado e não preciso encontrar saídas de sobrevida.

Estamos de acordo? Não. Melhor assim. Eu conheço dois tipos de gente. Aqueles que buscam seu próprio sonho dentro dos outros. Esses são os românticos e sua incessante caça pelo ideal, de decepção em decepção, esquecendo da subjetividade dos sentimentos, numa poligamia melodramática, como um álibi onde se justificam seus erros, traições, carências e rejeições. Palmas, vocês comovem as pessoas. O outro tipo, meu tipo, a ala dos objetivos e menos escandalosos, já não projetam seus ímpetos quiméricos, não nos derretemos com seus pedidos de ficar e dormir colados e ofegantes, como duas plantas enroscadas debaixo de um aquário, sem oxigênio.

Seus olhos são verdes, claros e bonitos, mas rejeito seu convite pra um mergulho. Você me interessa justamente por não ter capacidade de me decepcionar. E desculpa se te choquei, mas não preciso de perdão ou aprovação, sua e de ninguém. Durmo tranquilo e sozinho e sem vergonha e com as cinzas. Quem é mais justo e digno e honesto do que aquele que dá somente aquilo que tem pra dar? Me faz rir jurando que são aqueles que pedem pra ficar, só porque é tarde e a cama é quente, até daqui a pouco...
Quem fica por razões erradas não fica por muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário