Eu
resolvi subir tão alto, que agora fica difícil de alguém me alcançar. Eu quis o
“melhor lugar”, distante de tudo e de todos, que ficou quase impossível alguém
conseguir chegar aqui. Aqui é diferente, é prático, é distante, é frio, mas é
frio porque eu gosto do frio, é frio porque quando chegar alguém é pra
esquentar de vez. E enquanto não há ninguém capaz, eu não quero queimar nada aqui
dentro de mim. Em vão. Deixa
assim. Frio.
E
o grande problema está aí, não há ninguém. Todos estão do lado de fora, não há ninguém
definitivamente aqui dentro. Não consigo achar se é que existe, “solução” para
estas coisas. Eu acredito que acontece. Que a gente não vê, que é espontâneo. E
acredito porque já vivi, já senti, e muitos por aí provavelmente também já se
depararam, simplesmente apaixonados. Aqui só residem lembranças passadas de
pessoas que já foram um dia. E que se são lembradas demais hoje, é por falta de
lembranças recentes. É por falta de gente. Gente competente!
Aqui
dentro, segunda, terça, quarta, e quinta eu tenho muito que fazer. Muitos
planos, muitas tarefas, muitos deveres, muitas preocupações, e tempo pra pensar
nessas coisas não há. Lazer, é respirar; sorrir, um segundo se quer no meio da
confusão do dia-a-dia.
Mas
passou das 18 horas da sexta-feira, tudo muda. Outra pessoa passa a explorar
todo esse corpo e alma, e eu entro numa crise de abstinência completamente
irreconhecível. De longe parece TPM, mas raramente é.
É
uma saudade. Uma falta... Uma falta de sentir falta, uma melancolia, uma
tristeza de não ter ninguém aqui dentro, compartilhando do mesmo calor; mesmo
ar (Olha isso? O mesmo ar!)...
Ninguém
aqui dentro pra me ensinar a rir de outras coisas, que não seja as que eu já
estou acostumada. Ninguém pra me mostrar uma banda nova, e uma música com a
minha cara. Um novo livro; ou uma nova vida. Um novo ritmo, outros lugares. Uma
viagem, onde ninguém nos conheça.
Eu
vejo mil e um caras aqui dentro. Imagino cada um, em cada canto daqui e como se
sairiam por aqui. Penso, fico rindo sozinha. Penso, imagino, dou gargalhadas.
Seria engraçado, ver alguém aqui dentro. Logo aqui? O meu lugar, quase ninguém
pisa, quase ninguém suporta o peso. As minhas bagagens sempre ocupam espaço
demais, e então quem chega não vê espaço pra ficar. Não vê motivos, também. Que
pena!
Seria
engraçado ver alguém tentando se adequar aqui dentro. Minhas regras, meus
estresses, meus cantos, minhas crises, meus humores. Seria sem graça na
verdade. Por isso preciso me encantar. Me apaixonar. E só assim dará “certo”. Alguém
que consiga me subestimar sem saber. Alguém que mexa com meu psicológico e com
meu coração, roubando total a cena aqui dentro. Chegando com as bagagens sem
pedir licença, e sem deixar espaço nem para um nécessaire minha. Tomando conta.
De tudo aqui dentro.
Pra
ele? De uma vez só. Pra mim? Muito aos pouquinhos. Tão pouquinhos que não se
percebe.
Eu
venho tentando acertar. De duas uma, ou eu estou presa aqui dentro de uma forma
que eu não sei como fui parar, ou as pessoas estão preferindo amor ao ar livre.
E eu não sei lidar com este.
É
complicado demais, estar no lugar certo, na hora certa, no dia certo, na fase
certa, no momento ideal. Isso acontece sim, mas é raro demais pra mim, na minha
concepção. Vão dizer que não tem esse negócio de hora certa e lugar certo e blá
blá. Mas se não isso, então a outra opção é aquela velha história que eu creio
desde o início. ACONTECE. Simples e objetivo... Pra uns.
E
se “acontece” não há o que fazer. Então eu escrevo, e penso, e fico rindo
sozinha, e imagino, e finjo que gosto de longe pra não machucar ninguém. Brinco,
danço, bebo, e não me comprometo. Ainda não chegou a minha hora. E faço amigos,
hoje eu prefiro fazer amigos, mesmo que isso demore ou quase não funcione
muitas vezes. Eu ainda prefiro assim. Cansei de “fazer” paixões, que hoje eu
desconheço por aí. Criar afinidades estúpidas, pessoas sem chão pra pisar. E
que quando pisa e vê que não tem nada, leva todo mundo pro buraco.
Já
trouxe muita gente aqui para dentro que cagou na entrada e na saída também. Que
entrou aqui de chinelo, e eu boba que sou não exigi que os tirasse. Conclusão, mal
eu sabia que a pessoa estava com os pés todos sujos, e quando resolveu sair,
fez questão de sujar tudo aqui dentro. Escondeu-se em cima de um chinelo limpo
e bonito. E quando bem quis saiu pela porta da frente. Logo aqui dentro, que eu
tinha demorado tanto pra renovar, limpar, e adornar, e arrumar, e enfim
enfeitar, perfumar, celebrar. Ah não! Foi uma única lambança para nunca mais! Ou
nem tão cedo! Faxina aqui dentro? Só das minhas próprias sujeiras. Sujeira dos
outros aqui dentro eu não admito mais! Eu que não vou ficar limpando o que as
pessoas fazem de errado na minha vida. Ou elas aprendem a viver decentemente,
ou elas não pisam aqui.
Porque
se eu não cuidar daqui. Quem vai cuidar? Ainda não apareceu o companheiro mor,
que vai me ajudar a sustentar a carga, a sacudir a poeira quando for preciso,
lavar tapete, botar cortina, arrumar a cama, fazer comida. Esse ainda não me
ocorreu. Então, vou eu mesma tomando conta sozinha disso aqui. Isso aqui é
precioso, é a única coisa que eu tenho. Que é meu de verdade. É meu espaço, é a
minha vida.
Hoje
já é segunda, e já estou mudando. Minha pele da alma já está mudando (risos). Estou
a caminho de esquecer essa história que escrevi. De esquecer quem foi que
escreveu. Mas no fundo, quando eu lê, vou reconhecer lá de longe... Quando for
chegando a sexta-feira a noite novamente. E aí a outra parte de mim volta, e
ela sim, irá entender com todo o sentido este texto.
Oi, Marcella. Quanto tempo! Gostaria de parabenizá-la por ontem, o dia internacional das mulheres. Você, com certeza, faz parte do rol das Q fazem a diferença. Beijos.
ResponderExcluirObrigadaaaa meu bem!!! Mt obrigada
ResponderExcluirBeijaooo